– Artigos escritos durante viagem de ônibus de São Luís – MA a Nova Jerusalém – PE rumo à Paixão de Cristo.
A cada semana estarei divulgando novos capítulos até a conclusão desta série de 15 capítulos.
DÉCIMO SEGUNDO CAPÍTULO:
A COLHEITA NO BONÉ DA SORTE!
“Mais agradável que a semeadura, é a colheita. Seja de grãos, ou de (boas) palavras.” (Isaura Theodoro)
Desde o primeiro dia da nossa viagem partindo de São Luís – MA para Nova Jerusalém, Praia dos Carneiros, Porto de Galinhas e Recife-PE tinha um menino que transitiva subindo e descendo pelo ônibus panorâmico que viajávamos, daquele que possui dois andares (Double-decker) ou salão de passageiros elevado, com um posto de motorista rebaixado.
O distinto garoto entrava em nosso ambiente que chamamos carinhosamente de “porão”. É aquele lugar do ônibus que fica embaixo, próximo à entrada e à frente do porta bagagem onde os passageiros colocam suas malas carregadas de tralhas, roupas velhas e novas, frustrações, sonhos, expectativas, desejos, medos e esperanças.
“A criança é alegria como o raio de sol e estímulo como a esperança.” (Coelho Neto)
Nessa viagem iam juntos todos esses elementos, somados à língua afiada das mulheres para falar mal das outras e a falsidade para fingirem serem amigas de primeira viagem. Tudo fantasia de humanos, cada um querendo contar mais vitórias que os outros.
Umas mentirosas, outras discretas, muitas belas, poucas feias, algumas esbeltas, outras gordas, inibidas e falastronas, a maioria mulher poucos homens. Feios como eu, mas alegres e inteligentes para compensar a feiura. Tinham aquelas que pareciam felizes, outras reclamavam de tudo, uma calada e observadora outra excitada criativa e diferente de todas assim nesse ambiente de diversidade de ações, pensamentos, gênero, raça… Seguimos e voltamos.
Não importa as qualidades e provocações acima descritas, sem elas (as mulheres) nada somos.
“As mulheres desde o ventre tem a força e o poder das tempestades, a nobreza das rainhas e a beleza dos pássaros pintados. ” (José Carlos Sanches)
Os lideres da empresa SLZ que nos conduziu até o destino. Kennedy e esposa sempre alegres e atentos. Kennedy sorridente …mesmo nos atrasos dos passageiros, nas paradas e pontos de encontros.
Os motoristas não dormiram ao volante e ainda trabalhavam nos intervalos das paradas. Enquanto dormíamos eles dirigiam, trocavam pneus, abasteciam o ônibus e seguiam viagem. Sempre solícitos e disponíveis.
“A paixão é passageira, o amor é o motorista. Ele nos leva pelas estradas da felicidade.” (Miriam Panighel Carvalho)
E Matias, o menino traquino, buliçoso, irrequieto, teimoso, travesso… como queiram chamar. Continuava a subir e descer as escadas do ônibus provocando todos os passageiros, ambulantes, peregrinos…
Resolvi sugerir aos passageiros que fizéssemos uma “vaquinha” para ajudar os motoristas. Kennedy concordou com a ideia. Então falamos ao microfone e convidamos os colegas de viagem para participarem da boa ação. Informamos que cada um daria a quantia que pudesse. Quem não tivesse nada a contribuir, não seria obrigado a participar.
“Infelizmente a solidariedade, caridade e a honestidade são tão raras que quando acontecem viram noticiário.” (Nádson Emanuel)
Assim fizemos, passamos o boné vermelho e Matias o garoto simpático recolheu a “grana” dos colegas viajantes, enquanto o ônibus barco se deslocava partindo de Porto de Galinhas, Pernambuco para São Luís do Maranhão.
Quando Matias chegou ao Porão com o boné vermelho para recolher os “donativos” quase todos contribuíram. A minha esposa deixou a sua contribuição e pegou o troco no boné. Logo Matias disse: “ Não pegue o dinheiro da mamãe.” Inocência de criança. Sorriso Geral!
“Permita-se rir e conhecer outros corações. Aprenda a viver, aprenda a amar as pessoas com solidariedade, aprenda a fazer coisas boas, aprenda a ajudar os outros, aprenda a viver sua própria vida.” (Mario Quintana)
Após recolher o dinheiro de todos, nos dois pavimentos do ônibus. Matias e Kennedy sentaram no piso do ônibus, num espaço próximo da cabine dos motoristas e foram contabilizar a arrecadação.
Em poucos minutos Kennedy informou aos contribuintes que tinha arrecadado R$ 150,00.
“A colheita é sempre maior do que a semeadura. O fruto que se colhe é sempre maior do que a semente que se plantou.” (Gustavo Lacerda)
Enquanto isso, Matias contava quantas pessoas estavam no ônibus. Contou 44 na parte superior e 7 no porão. Num total de 51 passageiros, fora 2 motoristas e 2 organizadores de viagem (Kennedy e esposa). Arrecadamos, em média, R$ 3,00 por passageiro.
“A vida humana transcorre por três estações: A semeadura, o florescer e a colheita. Ou seja: A infância, a adolescência e a senilidade!” (Almany Sol)
A minha grande surpresa foi ao final quando reencontrei com Matias na entrada do ônibus. Ele me disse: “Arrecadamos pouco dinheiro. Deveria ter usado o meu boné ao invés do seu. O seu boné não dá sorte! O meu dá!”
Disse então a ele: “Matias então passe o seu boné novamente para arrecadarmos mais dinheiro para os motoristas.”
“A verdadeira pergunta é inocente e é por isso mais própria da criança. A resposta perdeu já a inocência e é assim mais própria do adulto.” (Vergílio Ferreira)
E continuei: “Matias o meu boné deu sorte recolhemos R$ 150,00 e fizemos dois motoristas mais felizes, não apenas pelo valor, mas principalmente pelo reconhecimento e gratidão dos passageiros pelo seu trabalho. E ainda demonstramos o quanto somos solidários com as pessoas que nos ajudaram a chegar ao nosso destino e de sobra conheci você com a sua extraordinária capacidade de liderança, espirito de equipe e genuína inocência de criança.”
“A magia, a maravilha, o mistério e a inocência do coração de uma criança são as sementes de criatividade que vão curar o mundo. Acredito nisso!” (Michael Jackson)
