– Artigos escritos durante viagem de ônibus de São Luís – MA a Nova Jerusalém – PE rumo à Paixão de Cristo.
A cada semana estarei divulgando novos capítulos até a conclusão desta série de 15 capítulos.
DÉCIMO CAPÍTULO:
PORTO DE GALINHAS
“Acordo cedo e vejo o mar se espreguiçando; o sol acabou de nascer. Vou para a praia; é bom chegar a esta hora em que a areia que o mar lavou ainda está limpinha, sem marca de nenhum pé. A manhã está nítida no ar leve; dou um mergulho e essa água salgada me faz bem, limpa de todas as coisas da noite.” (Rubem Braga)
Em 31 de março véspera do dia da mentira estamos no Porto de Galinhas-PE com a comitiva que destinada a participar da Paixão de Cristo em Nova Jerusalém se afastou do propósito após o espetáculo para curtir as praias do litoral pernambucano. Depois de curtirmos ontem a paradisíaca Praia dos Carneiros hoje nos desnudamos nesta maravilhosa praia localizada no município de Ipojuca, no estado de Pernambuco. A região possui piscinas de águas claras e mornas formadas entre corais, além de estuários, mangues, areia branca e coqueirais.
Toda a região é muito frequentada por turistas e surfistas de diversas nacionalidades, sendo eleita pela revista Viagem e Turismo, da Editora Abril, como a “Melhor Praia do Brasil” por 10 vezes consecutivas.
“No século XV, em plena descoberta do Brasil, o lugar era habitado pelos índios Caetés, onde predominou o tráfico do pau-brasil. Daí em diante, até o final do século XVI, o lugar foi abandonado porque os índios não deixavam sair madeira nem açúcar do lugar, mas retornou no século XVIII com o desembarque clandestino de escravos.”
“Antigamente, Porto de Galinhas era chamada Porto Rico, devido à extração de Pau Brasil. Quando os escravos chegavam para serem vendidos, contrabandeados, vinham escondidos embaixo de engradados de galinhas d’angola. A chegada dos escravos na beira mar era anunciada pela senha Tem galinha nova no Porto!. Por causa disso, Porto Rico ficou conhecido como Porto das “galinhas”. Daí surgiu o nome Porto de Galinhas.”
É galinha, galo, pinto, franga, papagaio, piriquita para todos os lados na praia e ruas da cidade. Mar, areia, barco, ar, vento, gente tudo junto e misturado naquela euforia bela e contagiante de uma cidade agradável e aconchegante. O que predomina são as galinhas de todos os tamanhos, estilos, desenhos, em todas as ruas, cantos, bares, lojas…
Ontem estávamos minha esposa, colegas de viagem da SLZ e eu com o galo da madrugada em Recife assistindo à Paixão de Cristo no “Marco Zero” um “protótipo, reprise” da apresentação em Nova Jerusalém com a limitação de espaço, palco, atores e coadjuvantes.
Passageiros, viajantes, sonhadores visionários que se aventuravam, buscando se completar, nas terras brasileiras conhecendo a linda cultura e as belezas de Pernambuco, as paisagens do Piauí e Maranhão. Quanta nostalgia, simplicidade e tudo mais junto nestes rincões do nosso gigantesco Brasil que nos orgulha a todos pelo seu extenso território, povo alegre, amável, pacífico e acolhedor.
“Há pessoas que se completam como o preto e o branco, como a praia e o mar, como o sol e o verão, como o beijo e o suspiro, como um olhar e o sorriso, como o sonhar e o amar, se completam porque nasceram para se encontrar…” ( Poty )
Os escravos africanos que por aqui chegaram nos navios negreiros, desprovidos da liberdade, eram derramados sangrando, chorando e sofrendo neste recanto das galinhas africanas com era chamado. O que era um ponto de venda e contrabando de escravos é hoje referencia turística. Paradoxos da vida!
Porto de galinhas é um lugar agradável, convidativo e acolhedor, onde se misturam poesia, fantasia, sonhos e realidade, numa praia de delírios, turistas, contos, botes, barcos, pessoas, bares, música, mar, sol, ar, iates, lojas de roupas, restaurantes, arrecifes de corais, banhos, lembranças, curtição, cerveja, peixes, mulheres bonitas, homens brilhantes, camarões, caranguejos, pinturas, ateliê, artistas, voluntários, mergulhadores, barqueiros, vendedores, cilindros de oxigênio para mergulhar, águas cristalinas, peixes nadadores, crianças, jovens, adultos e idosos sorridentes e felizes. Fotografias, luz, areia, paz e amor.
“O mar de Pernambuco é belo por natureza. O seu esplendor traduzido no verde-esmeralda, é apreciado logo na chegada. O aroma da brisa das manhãs remete-nos às lembranças do passado. Viajo nas brincadeiras nos arrecifes e do delicioso mergulho nas piscinas naturais. Estrelas do céu e do mar encantam a praia de Porto de Galinhas. O descanso na rede de dormir equilibra e dá uma sensação agradável de encontro com a felicidade.” (Gleidson Melo)
O silencio e a paciência se confunde com os desenhos em azulejos das crianças que fazem das suas brincadeiras de infância a sobrevivência na rua principal da cidade. Tudo faz parte da rotina diária daquele lugar abençoado.
A partir da 16h quando o sol começar a dar adeus aos homens da terra e os turistas se arvoram nas compras das lembranças da linda e pacata cidade das galinhas angolanas.
Passeei pela vila por mais de três horas sozinho apreciando a beleza, os detalhes, as pessoas, os movimentos, tirando fotos e visitando ateliês… enquanto minha esposa e colegas de viagem (Socorro, Lilia, Leni, Leciane) passeavam de jangada pelo mar. Sacudidas pelas ondas e banhadas pelos pingos d’agua ajuntando das águas cristalinas os peixinhos a comerem em suas mãos. Curtindo o balanço da embarcação sorrateira e mansa a navegar pelo mar revolto do litoral pernambucano com alegria e vibração.
“Sinta o mar, o vento, o sol. Cada trajetória deve ser explorada ao máximo.” (Campbell Ronald)
Visitei ateliês me deparei com quadros de grandes pintores, inclusive maranhenses, que se instalaram naquele lugar maravilhoso para soltar a inspiração e criar belas obras de arte que me inspiram a escrever e viver melhor. Serei eterno apreciador da pintura, escultura, cultura e arte que me fazem ver o mundo, as coisas e as pessoas com um olhar diferente.
O forrozeiro a vender as músicas do seu 1º CD que gravou ao 69 anos de idade, a desfilar pelas ruas da cidade com o seu grupo de três: um no triangulo, outros dois no tambor e sanfona distribuindo simpatia, boa música(forró) e alegria aos turistas e moradores do Porto de Galinhas,
O moço da venda de churros, tapioca e café que veio da Argentina nos ensinava (Socorro e eu) como viajar para a Argentina através de Foz de Iguaçu economizando alguns trocados. Sistemático e cativante vendedor de sonhos. Estava escrito na parede da sua lanchonete a seguinte frase:
“ O cozinheiro mescla a paciência de um budista, a agilidade de um malabarista, a liderança de um maestro e a criatividade de um artista.”
Com essa frase encerro o meu artigo apreciando a beleza da diversidade, as diferenças, a simplicidade das pequenas coisas que me inspiram a ser um homem melhor.
A Felicidade está nas coisas simples. Da Capital Brasileira do Reggae à Paixão de Cristo em Nova Jerusalém. Do galo da madrugada às galinhas do Porto. Viva a vida!