Por José Carlos Castro Sanches
As lembranças da minha casa
Dos jardins, pássaros e redes
Dos quadros, móveis e varanda
Telhados, pisos e paredes.
Ela é a minha casa 
Com muitos quadros na parede
Escolhidos a dedo 
Desprezados ao léu, deixados
Lá como se não tivessem valor
Que pena; se não fosse a ambição
O desejo efêmero da mudança
Uma ferida que arde o coração
Cada vez que visito aquele ambiente
Lembranças vêm com emoção
Não sei se é tristeza, saudade
Ou puro sentimento de ingratidão.
Ela é a minha casa
Aconchegante, alta, ventilada
De jardins floridos
Ampla, linda e abençoada
Com a vitória de flores brancas
Minha casa amada
A palmeira imperial 
Crescendo solta e iluminada
As gramas verdes, a cerca viva
A beleza esculturada.
O sapo, o camaleão 
Os passarinhos, a cisterna
A casa da bomba, o depósito
No fundo do quintal
Que guarda a minha maleta
De madeira que trouxe de Rosário
Para guardar as minhas roupas
Hoje guardam os poemas
Antigos e cartas das namoradas
Também protege a máquina de levar
Varais de roupas e as pias 
Guarda de materiais de serviço
A bomba da caixa d’agua 
Que serve a minha eterna casa
Ela chora a minha ausência 
Eu também choro por ela.
Até os morcegos cativos
Primeiros moradores da casa 
Choram a minha falta 
Os quadros de Monalisa
Da cidade de Paris
Das viagens pelo Nordeste
Da família, dos filhos, da esposa
Os meus quadros diversos
Sozinho comigo mesmo
Do casal, dos netos
Dos pais, avós, tios, primos.
O quadro da mulher 
Quase nua, de chapéu 
De cabeça baixa, pensado
Na vida, na solidão, pureza
No abandono dos seus donos
É triste ver esse espaço
Distante, sossegado e sujo
Outrora minha casa 
Construída com tanto amor
Dedicação, suor, trabalho
Trabalho, trabalho e cuidado
Pouco dinheiro e muita vontade.
A varanda com os sofás
As cadeiras de palha 
Apodrecidas 
E a vista linda do meu 
Jardim florido de flores
E pássaros a cantar 
Alegremente, sem parar.
As seis cadeiras em volta da mesa
Na agradável sala de jantar 
Onde reuníamos a família 
Para juntos “o pão divino” ceifar
Tem um enorme espelho
Pelo qual me via lindo
Ao lado dos meus amados
Espreitando os quadros pintados
Por meus netos, os que 
Comprei, os que ganhei
Saudoso, triste e arrependido (pensativo)
Reflito sobre o passado e o presente
Divagando na fantasia
Com a lembrança forte
Da beleza e magia. 
O espelho da copa na parede
Superfície de 1,0 x 3,0 metros
Abaixo o armário de madeira de lei
De mesmo comprimento do espelho
Acachapado de quadros com fotos 
Da família e lembranças das viagens
Que fazíamos, sempre gosto de trazer
Algo para recordação dos lugares visitados.
O armário guardava as peças de valor
Pratos, copos, objetos diversos de uso
Na copa, cozinha e adjacências 
Sacolas, peças, vidrarias, metais
Guardanapos, paliteiros e outros mais.
No lugar onde seria uma pia
Fica o bebedouro 
Que a todos alimenta 
Com o maior tesouro
Agua benta e pão divino.
A cozinha ao lado da copa
Envolta pela geladeira, o freezer
As mercearias e alimentos
Os armários e móveis projetados 
As panelas, a chapa de assar
O micro-ondas, o rádio que 
Minha amada escutava as musicas
E programas que alegravam o dia
O fogão que fazia o melhor
Cozido, assado, frito…
Sendo ovo, carne, peixe
Feijão, arroz, macarrão…
Era tudo alegria, satisfação…
A felicidade deitava e rolava
Naquela simples hospedaria
Com o luxo que me aprazia.
O corredor lardo de braça
Paredes altas até o telhado
Ampliando a liberdade
Com quadros de um lado e outro
Cada um tem um sentido
Embora que pareçam morto
Amorfo, parado, grudado
Todos sentem o colo amigo.
O sofá vermelho no corredor
De frente para sala de jantar 
De lá via meus amores
Sentados se alimentar
Com um dizer por trás sofá 
Na caixa de iluminar 
De onde saia a luz
Quando a noite queria chegar
Neste quadro um dizer
“Canto da Paz”
Visite a casa para conhecer.
O quadro de Alcântara 
Que minha esposa ganhou
De presente numa viagem 
Que fizemos pela história
Uma lembrança eterna
Estampada na parede 
Próximo ao nosso dormitório.
Uma bancada de muitos 
Quadros no final do corredor
Entre as portas da suíte
Do banheiro central 
E o quarto da filha caçula.
No quarto do casal
A cama solitária, com ácaros
Dois travesseiros tristonhos
Pela falta dos seus donos
O guarda-roupa aberto 
Para ventilar as roupas 
Esquecidas, com cheiro 
Abafado, parece que nunca
Terem sido usadas, que pena
Desoladas nos seus pendentes
Cabides que vivem um dilema. 
Os livros sob a cama
E sobre a proteção do frigobar
Uma biblioteca escondida
Sofrendo calada, desolada
Os criados-mudos, a cômoda 
E o pendurador de roupas
Usadas, em desuso
As ferramentas, materiais
No abafado e escuro mundo.
O banheiro da suíte 
Com a amplitude de uma sala
Oriental, de onde não esqueço
Caí e segui para o hospital
As escovas dentro do suporte
A pasta seca no pote
E o raio de sol entrando
Pela aresta que traz a sorte.
Os três quartos das filhas
Com as camas, guarda-roupas
Roupas, livros, brinquedos
Quadros, forrados com madeira
De lei, com portas e janelas
Moveis fortes de duráveis de pau d’arco
Foram tantos dias trabalhados
Tantas brigas na montagem
Carinho excessivo e cuidado
Suor, saudade e coragem
Hoje parece tudo abandonado.
A sala com a televisão
A estante quase quebrada
O lindo sofá de couro
Que compramos 
Lá no “Louvre” de São Luís
O pezão que trouxe 
De Aracaju e artesanatos
De outros lugares do Brasil
As pirâmides de pedra
Que comprei em Ouro Branco
Outras de Curitiba
As caixas da velha vitrola
Os vinhos e bebidas
As lembranças de todas
As viagens que sempre 
Gosto de trazer
Tudo parado no tempo
É triste meu desprazer. 
Do outro lado da sala
O armário que guardo meus livros
Um outro sofá vermelho
Os inúmeros brinquedos 
Da minha neta Julie e filhas  
Um par de cadeiras bonitas
Verdes e estufadas
Deixadas naquela parte
Como se estivessem jogadas.
Sobre a bancada do meu
Escritório, onde ficava o computador
Lia, escrevia e estudava
Um girassol de papel
Girando devido ao vento
Que entra pelas janelas
Da minha casa de luz para todo 
Lado e vento assoberbado 
Foi o que vi de mais vivo
Naquele compartimento.
Além de um lindo quadro
Que comprei em Fortaleza
Com o sol, um barco 
Querendo lembrar a realeza
Os momentos felizes que
Vivi naquela casa amada
Que voltarei em breve 
Para curtir a natureza
Além dos sonhos profundos
De uma vida de grandeza.
A garagem que guardavam
Os carros e chegavam os alimentos
Que saciavam a fome dos meus
Durante todos os dias
Um presente de meu Deus.
O corredor de entrada 
Da garagem para a cozinha
A porta de entrada da casa
Era pela lateral – lugar onde
Ficava o sapo na grama do quintal
Surgia do escondido debaixo
Da cerca viva, do tubo de sair água
Esperava as cinco horas
Para dar as caras 
Numa felicidade sem demora
Que me lembro até agora.
O portal estreito da entrada 
Ladeado pelas cercas vivas
Com uma passarela de cerâmica 
Até a calçada da casa
A calçada que dá volta 
Por toda a construção
Para garantir a proteção
Acobertada pelo muro
Que espreitava e protegia do ladrão.
A casa tem telhado elevado
Cobertura de caída para dois lados
Para frente e para trás
Com 10 metros de frente 
E 16 de fundo, num terreno
De 15 X 30 metros, ladeado
Por cercas vivas, gramados e
Jardins – tudo parte da alegria
Quem visita gosta muito
Da amplitude e tranquilidade
Coberta de telha cerâmica 
Sem forro no corredor largo
Varanda e garagem.
O jardim é um esplendor
Tem diversos arbustos, flores
Palmeiras, cercas vivas 
Cantos e passarinhos
Leveza esverdeada e ninhos
E o vento agradável 
Soprando nos meus caminhos. 
A fachada é dividida 
Em cinco vãos de pilares
Com uma laje de reforçada
Comprimento 15 metros
E largura de 1 metro 
Que protege da chuva 
Os entrantes, visitantes
Além do muro da frente
Da minha bela casa.
Ao fundo um terreno baldio
De igual largura e comprimento
Com a frente para a rua Pernambuco
Adquirido a bom tempo
Na época que era possível
Se fazer investimento. 
A fachada era pintada
Pilares pintados de branco
Estendendo para a laje
Entre os pilares azul 
Com dois portões de alumínio
Um pequeno para entrada de pessoas
Outro maior para a garagem
Sobre os muros a cerca elétrica 
Para afastar os malfeitores
Câmeras e sirenes internas para informar 
Qualquer invasão indevida 
E garantir a segurança para a minha 
Querida família, maior patrimônio
Que tenho, além da minha própria vida. 
A rua é bastante larga
 Com 12 metros de largura
 Asfalto, energia e água
 Para encher a enorme
 Cisterna que alimenta 
 A caixa d’agua, bombeada
 Todo dia nunca nos falta 
 Água para matar a sede
 E irrigar o jardim florido 
 Em volta da minha casa.
O bairro é uma… Incógnita
 Que chamaram de… Brasil
 Cada rua é um Estado
 E o Distrito Federal
 A nossa rua é… Avenida
 O número é… um Nó
 Uma venta e… nove.
A cidade é… maravilhosa
O Estado é o… sofrido
Meu eterno torrão
Berço querido.
Por que tanta melancolia?
 Passei 12 anos construindo
 A casa para a família
 Moramos por 17 anos
 Trocamos por um apartamento
 Eu sou o dono e vejo
 Com um olhar de poeta
 Toda vez que chego lá
 Minha mente se inquieta
 Fico perguntando ao vento
 Por que decidi pela troca
 Se tudo que quero é pouco
 Me basta uma casa simples
 Um jardim florido com pássaros
 Uma vida tranquila e farta
 Nada de exibição
 Afinal tudo é passageiro
 O que vale é o sentimento
 O amor, a paz e o sossego
 No meu próspero aconchego
 Agora fiquei em dúvida 
 O que externo neste poema
 Com tamanha emoção
 Seria benção ou gratidão?
 Teria eu motivo para sofrer?
 Estar triste a reclamar?
 Ou deveria me alegrar
 E agradecer por tudo que recebi?
 Pelas graças que Deus me deu
 De poder estar aqui.
Tudo não passou de um sonho
Que a inspiração proporcionou
Num mundo egoísta e tristonho
Será mais feliz quem acreditou.
José Carlos Castro Sanches
É químico, professor, escritor, cronista e poeta maranhense.
Membro Efetivo da Academia Luminense de Letras – ALPL
São Luís, 10 de julho de 2020.
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NOTA: Esta obra é original do autor José Carlos Castro Sanches e está licenciada com a licença JCS27(2).06.2020. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas. Esta medida fez-se necessária porque ocorreu plágio de algumas crônicas do autor, por outra pessoa que queria assumir a autoria da sua obra, sem a devida permissão – contrariando o direito à propriedade intelectual amparado pela lei nº 9.610/98 que confere ao autor Direitos patrimoniais e morais da sua obra.
 
					 
							 
																
															 
																
															