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Oferece a você a oportunidade de leitura e reflexão sobre textos repletos de exemplos, experiências e lições que irão transformar a sua vida.

A LIÇÃO DO FUNERAL

Por José Carlos Castro Sanches

Site: www.falasanches.com

“A morte espreita a vida.
É uma fera vigilante;
abominável e atrevida
como cobra ondulante.”
(José Carlos Castro Sanches)

Eu tive um sonho, que parecia real. Eu estava num velório em era fácil perceber que se tratava de um jovem amável que mantinha boas amizades e cativava pessoas ao seu redor, especialmente pelo número de colegas presentes que demonstravam apego ao falecido. A fileira de flores colocada por cada um deles sobre o túmulo com diligente afeto fortalecia a minha convicção do quanto aquele rapaz era amado por todos que ali estavam naquele triste momento de despedida.

Os pais, a mãe, as tias, o irmão, primos, amigos até eu que não o conhecia, estávamos comovidos com a morte prematura do moribundo. Todavia, como observador atento aos detalhes, percebi um momento de extrema confidência e intimidade – quando o pai adotivo com o qual o jovem conviveu desde os cinco anos, até os vinte e poucos, quando faleceu – aproximou-se do pai biológico – pediu perdão se alguma vez o ofendeu  e chorando abraçado disse-lhe: “eu cuidei do seu filho com muito amor, como se fosse meu. Não se distancie de nós porque eu ainda tenho um filho pequeno para a gente cuidar.” As lágrimas escorriam pelo rosto daquele pai desolado, que diante do imponderável momento de insuportável dor, abria o seu coração dilacerado para confortarem-se mutuamente.  

Despediram-se após o afetuoso abraço, o pai adotivo com lágrimas nos olhos, enquanto o pai biológico não demonstrava a mesma intensidade de sentimento, embora tristes, seguiram acompanhados das respectivas esposas, rumo ao desconhecido.

Naquele momento eu tive a sensação de que a máxima “Pai é quem cria!” tem fundamento. Apesar do pai adotivo declarar que o seu filho em vida dizia-se orgulhoso e feliz porque tinha quatro pais, pelo amor que recebia deste, do pai biológico, do avô materno e de um tio que o tratava com amor e carinho.

Perante o inusitado sonho, eu prefiro estar equivocado quanto à avaliação do comportamento do pai biológico, ao extrair mais um aprendizado para a vida: não podemos tirar conclusões precipitadas com base em atitudes ou condições momentâneas, na ausência de provas concretas, se os vi pela primeira vez juntos, em situação de desespero, certamente não teria elementos suficientes para uma análise criteriosa do fato.

É fácil fazer julgamentos precipitados, o difícil é obter resultados confiáveis sem evidências factuais. Certamente essa foi a mais preciosa lição aprendida no funeral. Além daquelas que eu já sabia, tais como:

1) A vida é um Sopro, sorria agora, ame intensamente!

2) A morte é um fato natural que faz parte dos ciclos da vida, assim como o nascimento. 

3) A dor da morte de um filho é insuportável; é considerada por muitos como a mais profunda que possa existir.

4) Se nascer foi uma dádiva (um bônus) – e a morte é a única certeza, não deveria ser um ônus, todavia ainda não aprendemos a conviver com ela, ainda que alguns acreditem na vida após a morte, nada é capaz de confortar um pai pela perda e falta de um filho, talvez o tempo seja capaz de amenizar o sofrimento; 

5) Diante da efemeridade da vida devemos aprender a viver intensamente o presente ao lado das pessoas que amamos, visto que o futuro é incerto e a hora da partida é uma incógnita revelada apenas quando se consolida. Eis a mensagem do dia!

“A morte sucede a vida
Como já disse um profeta.
Você ainda duvida?
Quem nunca morre é poeta.”
(José Carlos Castro Sanches)

São Luís, 21 de setembro de 2024.               

José Carlos Castro Sanches. É Consultor de SSMA da Business Partners Serviços Empresariais – BPSE. Químico, professor, escritor, cronista, contista, trovador e poeta maranhense. Membro Efetivo do PEN Clube do Brasil, da Academia Luminense de Letras, da Academia Maranhense de Trovas, da Academia Rosariense de Letras Artes e Ciências, da Academia Maranhense de Ciências e Belas Artes, da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão, da Federação das Academias de Letras do Maranhão, da União Brasileira de Escritores, da Associação Maranhense de Escritores Independentes. Membro correspondente da Academia Arariense de Letras Artes e Academia Vianense de Letras. Tem a literatura como hobby. Para Sanches, escrever é um ato de liberdade.

Autor dos livros: Tríade Sancheana – Colheita Peregrina, Tenho Pressa, A Jangada Passou; Trilogia da Vida: No Fluir das Horas, Gotas de Esperança e A Vida é um Sopro!; Pérolas da Jujuba com o Vovô, Pétalas ao Vento, Borboletas & Colibris (em parceria); Das coisas que vivi na serra gaúcha, Me Leva na mala, Divagando na Fantasia em Orlando e O Voo da Fantasia. Participa de antologias brasileiras.

NOTA: Esta obra é original do autor José Carlos Castro Sanches e está licenciada com a licença JCS21.09.2024. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas. Esta medida fez-se necessária porque ocorreu plágio de algumas crônicas do autor, por outra pessoa que queria assumir a autoria da sua obra, sem a devida permissão – contrariando o direito à propriedade intelectual, amparado pela Lei nº 9.610/98, que confere ao autor direitos patrimoniais e morais da sua obra.

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