“Somos navegantes num mar que não conhecemos; que Ele conserve sempre nossa coragem em aceitar esse mistério. ” (Paulo Coelho)
Jangada é uma embarcação de madeira utilizada por pescadores artesanais da região nordeste. É um barco à vela, feita com toras de madeira leve, para pescaria em alto mar. Veio para o Brasil com os portugueses, nos primeiros dois séculos de colonização. Originária do oriente (Índia, China, Japão), incorporou técnicas indígenas, de corte de madeira e extração de fibras para o cordoamento. A palavra ¨jangada¨ tem origem asiática, possivelmente da língua malaia.
O sábado, 19 de agosto amanheceu lindo aqui em São Luís. Eu passei a maior parte deste dia preparando um treinamento para lideranças de uma empresa local.
Focado numa proposta que ainda não foi confirmada pelo cliente, porém preciso me antecipar para fazer o melhor a cada atendimento personalizado.
“ Você nunca vai saber o que vem depois de sábado, quem sabe um século muito mais lindo e mais sábio, quem sabe apenas mais um domingo. ” (Paulo Leminski)
Aguardei o final do dia para assistir ao filme “Jangada”. História de pescador… Apesar da razoável flexibilidade de agenda saí de casa apressado para chegar ao Teatro Odílio Costa Filho na Praia Grande (Projeto Reviver), onde ocorre o Festival “Maranhão na Tela” de 16 a 26 de agosto de 2017. Cheguei atrasado e perdi a sessão.
Organizei-me para estar no teatro às 18h. Ao chegar fui informado que havia outro filme iniciando as 18:30h e logo nos deslocamos eu e minha esposa para outra sala de cinema ao lado.
Assistimos ao filme: “A memória que me contam” – Lucia Murat. O filme faz referência ao Brasil no período da ditadura militar, anos 60. Foi interessante algumas reflexões, mas confesso que fiquei muito confuso com o desenvolvimento do filme. E saí sem entender claramente a mensagem “confusa”. Entendo que mais por minha ignorância e pouca familiaridade com a história do nosso país do que pelo enredo do filme. Falavam de ditadura, medo, prisão, França, Paris, Brasil, Rio de Janeiro, sofrimento, angustia, algumas cenas de sexo entre homens (homossexualismo explicito). Contava um pouco da vida e história dos contrários ao regime militar à época e sobre as memórias de tortura que constantemente voltavam à lembrança.
A imagem inicial do filme retratava uma mulher submersa no mar e outra sufocada dentro de um carro durante uma chuva intensa… tudo muito confuso para minha mente linear e limitada.
Pude julgar que que as imagens representavam o sofrimento do cárcere privado durante as torturas. Fantasia da minha mente porque como disse tudo era muito confuso e pouco compreensível para um leigo.
A confusão era tamanha que não consegui sequer lembrar claramente o nome do filme enquanto escrevia este artigo logo após chegar em minha casa a poucos minutos do cinema. Certamente não por culpa do Diretor e da clareza do filme, mais precisamente pela capacidade de memória seletiva que às vezes me trai em assuntos recentes. Não pela idade, mas, por lapsos de memória que se acentuam e causam transtornos e incômodos frequentes. Nada que me impeça de continuar estudando, escrevendo e refletindo sobre a realidade e mantendo a curiosidade sobre a arte.
O cinema me fascina, o teatro enobrece a minha alma e a música é o relaxante natural do meu corpo e mente. A leitura o ópio criativo. A pintura minha inspiração e a fotografia fascinação. Escrever é a minha forma de externar para o mundo e compartilhar com as pessoas tudo de mais precioso que tenho dentro de mim. Quando escrevo posso sonhar nas noites de verão, dizer o que penso sem restrições e limites. Um sentimento de liberdade ilimitado toma conta de mim.
“Há quem diga que todas as noites são de sonhos. Mas há também quem garanta que nem todas, só as de verão. No fundo, isto não tem muita importância. O que interessa mesmo não é a noite em si, são os sonhos. Sonhos que o homem sonha sempre, em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado. ” (William Shakespeare)
Tudo belo e harmonioso se multiplica como as ondas sonoras. E vibram como as ondas do mar no meu gracioso paraíso particular onde cantam os pássaros no jardim. Como outrora cantavam os sabiás na terra das palmeiras de Gonçalves Dias.
“Todas as grandes coisas são simples. E muitas podem ser expressas numa só palavra: liberdade; justiça; honra; dever; piedade; esperança. ” (Winston Churchill)
Como perdi o filme em única sessão, sem sequer conhecer o roteiro, resolvi escrever sobre o que seria a minha “Jangada”.
“Num filme o que importa não é a realidade, mas o que dela possa extrair a imaginação. ” (Charles Chaplin)
A partir de agora você irá se deleitar dos frutos da minha imaginação criativa para tentar completar o vazio que ficou em mim nesta noite por não ter assistido ao filme “ Jangada” do cineasta, roteirista e ator maranhense: Luís Mario Oliveira.
Na tentativa de suprir a raiva e a decepção por não ter chegado a tempo de realizar o meu anseio passei a descrever “A Jangada” que passou em minha mente da seguinte forma: “Nenhum vento sopra a favor de quem não sabe para onde ir. ” (Sêneca)
A Jangada passou como passa a vida, o cavalo selado que só passa uma vez, a oportunidade perdida, a pedra lançada e a palavra dita. Tudo o mais que aconteça a partir de então é FUTURO.
“O drama do homem é o de ser limitado nos meios e infinito nos desejos; assim, não pode ser plenamente feliz. ” (François La Rochefoucauld)
A Jangada já não é mais PRESENTE é PASSADO. O desejo e a esperança estão manipulados pela frustração e falta de realização.
“Nunca deixe que as tristezas do passado e as incertezas do futuro estraguem as alegrias do presente. ” (Desconhecido)
A Jangada lançou-se ao mar com os pescadores em busca do alimento e do sustento. Pairava naquele grupo de atores a alegria, satisfação e a genuína vontade de realizar os seus sonhos e produzirem o que havia de melhor no cinema local. Limitados pelos escassos recursos financeiros, mas transbordando de alegria, vivacidade, entusiasmo, cumplicidade, amor e profissionalismo – pelo dever cumprido – ainda que incipientes na fama eram experientes na vida.
“Criatividade é inventar, experimentar, crescer, correr riscos, quebrar regras, cometer erros, e se divertir. ” (Mary Lou Cook)
O Diretor envolto na mais sublime e delirante felicidade. O elenco extasiado pelo repentino sucesso. Todos submersos na abundante graça, flutuando na simplicidade e absorvidos pela humildade e orgulho que afloravam em suas falas e expressões.
“A beleza é a única coisa preciosa na vida. É difícil encontrá-la – mas quem consegue descobre tudo. ” (Charles Chaplin)
De tudo que citei apenas uma certeza. Seja qual for o enredo do filme ainda que não tenha nenhuma informação sobre o mesmo estou certo de que “A Jangada passou! ”
como passam os dias da minha vida e a única certeza que tenho é que este momento jamais voltará. Mesmo que no futuro VENHA A TER a oportunidade de assistir ao filme nunca mais ele será inspiração para a minha escrita da mesma forma que agora.
“A incerteza dos acontecimentos, sempre mais difícil de suportar do que o próprio acontecimento. ” (Jean Massillon)
Talvez quem sabe a imaginação supere a realidade e seja melhor permanecer na espera sem nunca realizar este desejo ou ao contrário tudo poderá ser tão mais belo, criativo e motivador que valha a pena aguardar a nova oportunidade. (Assim como outras situações do nosso cotidiano).
“Se fiz descobertas valiosas, foi mais por ter paciência do que qualquer outro talento.” (Isaac Newton)
Às vezes pensamos que temos o controle das nossas ações e reações, nos planejamos e de repente tudo se transforma e o resultado é totalmente diferente das expectativas (planejado).
Não sei bem o que de verdade podemos controlar em nossas vidas porque tudo parece ocorrer de forma aleatória ao acaso – até aquilo que julgávamos ter controle absoluto – se torna fugaz e volátil como o vento que sopra, movimenta e transporta a jangada da vida.
“O que é o homem na natureza? Um nada em relação ao infinito, um tudo em relação ao nada, um ponto ao meio entre nada e tudo. ” (Blaise Pascal)
Esta embarcação sorrateira, leve e suave que pode levar ao mar aberto, revolto de forma segura. Bem como, poderá deixar se abater pela corrente marítima e naufragar nas profundezas de forma brusca e inexplicável como o último suspiro do seu condutor e passageiros (tripulantes).
Na vida, como no cinema as jangadas continuam a se movimentar, criar maresias, a lançar respingos d’agua nos tripulantes. E o mar sempre continuará desafiador como a nossa vida.
“ O mar não tem desenho, o vento não deixa o tamanho…” (Guimarães Rosa)
Cabe ao Jangadeiro. Dono do seu próprio destino. Segurar firmemente o leme e a vela da embarcação, tomar posse da sua força, domá-la e encaminhá-la rumo ao horizonte belo sobre efeito da maré, lua ou sol.
“ Os grandes navegadores devem sua reputação aos temporais e tempestades” (Epicuro)
Ainda que cansado de remar, à noite deste sábado (19/08) adentrando pela madrugada de domingo vale a pena descrever a beleza da vida.
“Homem livre, tu sempre gostarás do mar. ” (Charles Baudelaire)
Os sentimentos que me fazem encarar os desafios e suplantar as barreiras com os pés firmes na rocha, navegar nas ondas da imaginação e sobrevoar divagando na mente criativa e solitária de um viajante noturno que aponta as estrelas e as usa como “bússola” para direcionar as suas buscas, orientar seus pensamentos e flutuar na imensidão do universo. Numa incessante busca de respostas para infinitas indagações que nunca cessam.
“Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com frequência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar. ” (William Shakespeare)
Bateu o sono. A minha jangada continua em alto mar! Quem segura o leme da minha embarcação? O criador do céu e da terra.
“ O poder infinito de Deus não está na tempestade, mas na brisa. ” (Rabindranath Tagore)
Quem segura o leme da sua embarcação quando você está em apuros?
Se você não tiver resposta para esta pergunta significa que a sua vida precisa de uma bússola. Busque-a antes que o pânico e a tragédia destruam a sua vida. Acredite que SEMPRE haverá uma luz nas trevas. Um amigo prestes a ajuda-lo com uma mensagem de fé e esperança. Uma embarcação segura para transportar você para terra firme. Uma benção e o perdão para aqueles que se humilham e reconhecem a supremacia do criador.
“A jornada mais difícil é aquela que fazemos de volta ao lugar onde fracassamos. ” (Max Lucado)
Existe uma forca e um amor em você que só poderão ser revelados quando deixar fluir o poder de DEUS em sua vida. Liberando uma paz interior profunda que está além da sua vontade. Uma liberdade extrema que transcende a sua capacidade de percepção. Um limiar celestial que só poderá tomar conta da sua vida se você abrir a sua mente, o seu corpo e o seu coração e deixar penetrar a luz e a vida eterna. PARA QUE DEUS POSSA ILUMINAR A SUA JANGADA.
“Ele se levantou, repreendeu o vento e disse ao mar: Aquiete-se! Acalme-se! O vento se aquietou, e fez-se completa bonança. Então perguntou aos seus discípulos: Por que vocês estão com tanto medo? Ainda não têm fé? Eles estavam apavorados e perguntavam uns aos outros: Quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem?” (Marcos 4:39-41)
O dia seguinte era domingo e tudo de novo recomeçou: “ o sol brilhante” a minha netinha Julie foi ao quarto me acordar para irmos à casa do priminho Rafael (meu neto).
Aqueles abraços, beijos e afagos me inspiraram a levantar mais forte e alegre. Um novo dia! Mais um PRESENTE, uma nova história. Ainda que pretendesse continuar escrevendo a mesma história do dia anterior seria impossível. Porque já existe outro motivo. A vida é dinâmica, nada é estático. A vida é BELA e uma nova página começa a ser escrita a partir do agora.
O passado não me pertence mais. A minha história continua dia após dia. Tive que parar de escrever porque minha neta voltou a me chamar para brincar de casinha e boneca no tapete da sala. Voltei a ser criança e brincamos juntos por alguns minutos. Que benção esta dádiva de DEUS para a minha vida. Uma oportunidade única a ser vivida intensamente com amor e carinho. Nada supera este momento de felicidade ao lado das pessoas que amamos.
Depois de escrever este relato descobri que o filme “Jangada” não era “A Jangada” como retratei neste texto. Jangada não era uma embarcação como a minha imaginação criou e desenvolveu o tema.
“ A imaginação nunca é demasiado extensa nem limitada. ” (Carlos Drummond de Andrade)
O filme “Jangada” retrata um pescador e artesão de barcos que se tornou cego sendo limitado a se aventurar no mar. Sua filha Alice sonha alto e passa muito tempo cuidando do pai. A notícia da morte próxima de Jangada faz com que todos tomem destinos inusitados.
“Avalia-se a inteligência de um indivíduo pela quantidade de incertezas que ele é capaz de suportar. ” (Immanuel Kant)
Agora a minha imaginação já criou “A JANGADA” que transcrevi neste relato. Tudo porque não tive a oportunidade de assistir ao filme.
“A mente usa a sua faculdade de criatividade apenas quando a experiência a obriga a fazê-lo. ” (Jules Poincaré)
Valeu a pena viajar no inconsciente da minha mente fértil e descobrir que cada um pode descrever a SUA JANGADA.
Somos pescadores de sonhos e ilusões. Artesãos de nossas vidas. Cegos diante do futuro e limitados pela amplitude do horizonte. Aventureiros no MAR(anhão). Com filhos que sonham alto e gastam parte do seu precioso tempo a cuidar dos seus pais antes que a notícia da morte provoque a sensação de “peso na consciência” pela falta de cuidado e zelo com aqueles que tomaram possível a nossa existência.
“Honra a teu pai e a tua mãe (que é o primeiro mandamento com promessa), para que te vá bem, e sejas de longa vida sobre a terra”. (Efésios 6:2-3)
“Muito mais que cuidar dos seus filhos, é cuidar dos seus pais, os filhos terão tempo e depois o tempo os levará para outros ventos, já os pais não terão todo tempo e precisarão de bons filhos que o tempo poderá fazer. ” (Ivan de Arruda Freire Barbieri)
Quanto ao nosso destino cabe ao pai celestial dar o rumo que julgar conveniente. Assim seguimos passo-a-passo rumo ao FUTURO incerto. Vivendo cada momento como se fosse o último. A VIDA É BELA!
“É a incerteza que nos fascina. Tudo é maravilhoso entre brumas”. (Oscar Wilde)