Por José Carlos Castro Sanches
Site: www.falasanches.com
“Quem te conhece, Viana
preserva uma boa memória.
Sabe que não és leviana:
construíste a tua história.”
(José Carlos Sanches)
28 de janeiro de 2023, era dia de festa em Viana, tomaria posse na Presidência da Academia Vianense de Letras – AVL, Maria de Fátima Rodrigues Travassos Cordeiro, reconduzida ao cargo pela quarta vez consecutivamente – certamente subiria ao pódio para receber o merecido troféu por mérito – em reconhecimento ao brilhante trabalho realizado à frente do prestigiado sodalício. O que torna a confreira Fátima Travassos, referência na Gestão da AVL. Devendo se orgulhar pelo feito. A Academia Vianense de Letras – AVL foi fundada na noite de 4 de maio de 2002. Teve como primeiro Presidente o Desembargador Lourival de Jesus Serejo Sousa, seguido de Luiz Alexandre Raposo e da Procuradora de Justiça Maria de Fátima Rodrigues Travassos Cordeiro, atual Presidente da Casa Anica Ramos.
“Voz das letras de Viana
cresceu linda e educada.
Garota balzaquiana
de linguagem rebuscada.”
(José Carlos Sanches)
Viana é uma cidade de sete vizinhos fronteiriços, muito bem protegida nos seus limites territoriais pelos municípios de Pinheiro, Matinha, São Vicente Férrer, Anajatuba, Arari, Vitória do Mearim, Cajari e Penalva. Seriam as oito maravilhas da Baixada Maranhense? Naturalmente que não se igualam à Grande Pirâmide de Gizé, o Mausoléu de Halicarnasso, o Templo de Ártemis, a Estátua de Zeus, o Colosso de Rodes, o Farol de Alexandria, os Jardins Suspensos da Babilônia e Machu Picchu. Todavia, têm na sua essência o amor e a pureza profundamente agasalhados nos corações dos escritores e poetas baixadenses. Usarei entre os parágrafos do texto a letra do Hino da Cidade de Viana, escrita por Amancio de Aquino, com melodia de Temistocles Lima e do Hino da Academia Vianense de Letras de autoria de Luizinho Gomes, Luiz Alexandre e Ermelindo Sales e, Melodia de Seu Nunes, com o propósito de dar atratividade, leveza e unicidade à narrativa.
“Salve a terra abençoada
Viana torrão gentil
Rica pérola engastada
Nos adornos do Brasil”
A cidade de Viana, quarta mais antiga do Maranhão teve sua origem na aldeia Guajajara de Maracu, inicialmente povoada pelos missionários da Companhia de Jesus em 1683. A Vila de Viana, foi criada em 8 de julho de 1757, pelo governador da Capitania, Gonçalo Pereira Lobato e Sousa.
Em Viana, nasceram Antônio Bernardo da Encarnação e Silva (1799 -1848), lente de retórica e poética do Liceu Maranhense; Celso Magalhães (1849 -1879), poeta, novelista, crítico e promotor público, um dos precursores dos estudos folclóricos no Brasil; Antônio Lopes da Cunha (1889 -1950), magistrado, professor, jornalista e poeta, membro da Academia Maranhense de Letras; e Raimundo Lopes da Cunha (1894 -1941), naturalista e etnógrafo de renome, autor de vasta obra literária. Lourival de Jesus Serejo Sousa, Desembargador, ex- presidente do TJMA, escritor e atual Presidente da Academia Maranhense de Letras; Fátima Travassos, Procuradora de Justiça e ex – Procuradora Geral de Justiça do Ministério Público do Maranhão, por dois mandatos (2008 a 2012), escritora e atual presidente da AVL, entre outros homens e mulheres influentes na política, medicina, engenharia, direito e literatura maranhense. Sempre digo que a baixada maranhense é um criadouro de talentos e sumidades que enobrecem o nosso estado.
Não é por acaso que diversos estudantes de cidades da Baixada Maranhense se destacaram com pontuações acima de 900 no ENEM 2022. De São João Batista: Leandra Pires Soares, 22 anos, 960 pontos; Thaynara Cirqueira Soares, 20 anos, 940 pontos; Liedson Levi Aguiar dos Santos, 20 anos, 920 pontos; Ana Luiza Costa Abreu e Isabelly Mendes Cutrim, com 18 anos, 900 pontos. De Viana: Evenny Moreira Andrade, 18 anos, 940 pontos. De Matinha: Maria Eduarda Meireles Gomes, 19 anos, 940 pontos e de São Vicente de Férrer: Isamara Mendonça Nunes, com 19 anos, 940 pontos e Vanessa Soares Leite Pereira, 19 anos, 920 pontos. Há relatos de que um estudante de Cajapió tenha alcançado a nota 1000 no exame.
“Veneza dileta amada
És filha do Maranhão
Berço de heróis destinada
A suprema comunhão.”
Recebi o honroso convite para participar da missa e solenidade de posse de Fátima Travassos, juntamente com a minha esposa Socorro Sanches e o meu filho Carlos Daniel. Seguimos de São Luís com destino a Viana para prestigiar o evento numa viagem daquelas em que não nos preocupávamos com o destino, tanto quanto por apreciar as pessoas, a paisagem e as novidades durante o trajeto. O percurso que normalmente é feito em 3horas e 30 minutos, fizemos em 7 horas, o dobro do tempo. Sem pressa para chegar, comemos milho assado e cozido nas barracas da BR-135, visitamos e almoçamos em Arari, tomamos sorvete na Sorveteria OBA OBA de Vitória do Mearim.
Durante a viagem agradável aproveitamos as minudências do itinerário, a bela visão dos campos; exercitei a paciência e aprendi a desviar dos buracos na pista da BR e nas ruas e avenidas da cidade, noutros fui surpreendido, sem tempo para reação. Conversamos sobre amenidades; aproveitamos para relaxar; sair da zona de conforto; apreciar os búfalos; interagir com pessoas diferentes, fortalecer vínculos e criar memórias que jamais se apagarão.
Ao chegarmos em Viana no dia 27 de janeiro de 2023, visitamos a cidade nova e a antiga e o Parque Dilú Mello, juntamente com os Acadêmicos da AVL Joaquim Gomes, Susana Pinheiro e a colaboradora Amália Varão que nos acompanharam até o parque, de lá visualizamos os lindos campos da baixada maranhense.
Conheci a casa onde viveu João Mohana, dos 5 aos 19 anos. Ali, lembrei-me do saudoso Padre da Igreja da Sé em São Luís do Maranhão – quando jovem, eu frequentava aos domingos a Pré JUAC e a JUAC – Juventude Universitária Autêntica Cristã, tendo o privilégio de conviver com João Mohana, homem sábio, discreto, paciente e generoso. Na placa de alumínio com letras brancas e fundo azul, fixada na parede da frente da casa onde ele morou está escrito: “Academia Vianense de Letras. Nesta casa viveu João Mohana dos 5 aos 19 anos de idade (1930 – 1944). Nesse período, preparou-se como médico, romancista, psicólogo, pesquisador da música maranhense, sacerdote e pregador nacional do evangelho”.
“Maria de Lourdes Argollo Oliver, mais conhecida pelo nome artístico Dilú Mello, nasceu em Viana(MA), no dia 25 de setembro de 1913, foi uma cantora, compositora, instrumentista e folclorista brasileira. Aos cinco anos de idade iniciou seus estudos de violino, ainda na cidade natal, com o maestro Miguel Dias.
Em 1922 mudou-se com a família para o Rio Grande do Sul e já no ano seguinte, aos doze anos, fez um concerto no famoso Teatro Colon de Buenos Aires, acompanhada pelo pianista também precoce, Angelito Martinez.
Multi-instrumentista, além do acordeom e do violino, Dilú tocava piano, gaita, harpa paraguaia, violão e viola caipira. Autora de 104 canções, teve suas músicas gravadas por grandes intérpretes, como Ademilde Fonseca, Carmem Costa, Carlos Galhardo, Cantores de Ébano, Dóris Monteiro, Marlene, Nara Leão, Clara Nunes, Marinês e sua gente, Zé Ramalho e tantos outros.
Entre suas composições mais famosas destacam-se: Fiz a cama na varanda, Saudades do Maranhão, Meu Cariri, Qual o valor da sanfona, Redinha de algodão, Conceição da praia, Meu barraco, Telegrama, Maravia, Candelabro, As coisas erradas do mundo, Meia-canha, entre outras”. Faleceu no Rio de Janeiro em 24 de abril de 2000.
“Rútila estrela brilhante
Neste puro céu ameno
Que cintila radiante
Sobre o teu lago sereno”
Após a rápida passagem pela urbe nos hospedamos na Pousada Rebeca, fomos recebidos pela simpática proprietária Raimunda Lindoso da Cunha, que nos acolheu com atenção e carinho. Na mesma hospedaria abrigaram-se a escritora Fátima Travassos e o poeta Jonilson Bogéa, estávamos em boa companhia. Trocamos experiências, conhecimentos e fortalecemos os laços de amizade e afinidade literária, motivo especial do nosso encontro.
À noite jantamos pizza na Pizzaria Bolos e Cia. Socorro, Daniel e eu estávamos acompanhados pela anfitriã Fátima Travassos, confrade Jonilson Bogéa e pelo distinto Professor de Educação Física Batista Luzardo Pinheiro Barros Segundo, que nos brindou com boas dicas sobre a importância dos exercícios físicos para a saúde física e mental, da alimentação equilibrada para uma vida saudável, enquanto degustava pizza e bebia uma cerveja estupidamente gelada. Foi um bate-papo agradável e enriquecedor. Ao final, nos despedimos e retornamos à pousada tomamos um banho relaxante e dormimos para renovar as energias, eliminar as vibrações negativas, revigorar o corpo e a mente, sonhar e aprender para recomeçarmos o novo dia como protagonistas da própria história acompanhando o espetáculo do sol ao amanhecer. Afinal, o sol faz um enorme espetáculo ao nascer e a maioria de nós continua dormindo.
“Salve pavilhão ridente
De lindas cores brilhantes
Que a mocidade contente
Te saúda delirante.”
O sol brilhava pleno sobre os campos e a luz ardente aquecia a cidade naquele sábado abençoado, enquanto participávamos da missa de ação de graças conduzida pelo Bispo da Diocese de Viana Dom Evaldo Carvalho dos Santos.
Encerrada a celebração nos deslocamos para a sede da Academia Vianense de Letras, onde ocorreu a solenidade de posse de Maria de Fátima Rodrigues Travassos Cordeiro – Procuradora de Justiça, com os demais acadêmicos eleitos para a gestão 2023-2025. Além destes participaram do ato os acadêmicos: Joaquim Gomes – Professor; José Ribamar Costa Junior – Juiz de Direito; Geraldo Costa – Empresário; Vitória Santos – Professora; Susana Pinheiro – Artista Plástica; Laurinete Costa Coelho – Professora; Nozor Serejo Sousa – Advogado; Jadiael Cutrim – Policial Militar; Toninho Rabelo – Empresário, Cantor e Compositor. Autoridades municipais: Lauryfrancy Coelho Gomes da Silva – Presidente da Câmara Municipal de Viana; Maire Lourdes Lima Azevedo – Vereadora de Viana. E convidados especiais: Wilson Bacana – Cantor e Compositor vianense; Alice Pires – Presidente da AVLA; Francisco Inaldo – Presidente da AICLA e Membro Correspondente da AVL; Dilercy Adler – Presidente do IHGM, Membra Efetiva da ALL, SCLMA e Membra Correspondente da AVL; Jonilson Bogéa – Membro Efetivo da Academia Maçônica de São Luis, da SCLMA e Membro Correspondente da AVL e este que vos escreve José Carlos Sanches: Membro Efetivo do PEN Clube do Brasil, da Academia Luminense de Letras, da Academia Maranhense de Trovas, da Academia Atheniense de Letras e Membro Correspondente da ALAC. Em maio de 2023, se Deus permitir, tomarei posse como Membro Correspondente da AVL e juntamente com os demais acadêmicos cantaremos orgulhosos o belo Hino que segue:
“Academia Vianense de Letras
De nossa gente, alma e coração
Transmitindo amor pela cidade
Na memória da população
Glorificando o passado
Na presente geração”
Após a solenidade de posse nos dirigimos para a Arena Luzardo onde saboreamos uma gostosa feijoada servida no almoço ao som de boa música, poesia e agradável companhia.
Durante a solenidade usei a tribuna para agradecer à anfitriã e aos acadêmicos pelo convite, hospitalidade e estada em Viana. Fiquei surpreso com o movimento da cidade, comércio, ruas estreitas, interface de pessoas com os veículos (carros e motocicletas) nas ruas – uma competição desigual e perigosa, todavia parece tudo normal. O Centro Histórico da cidade me atraiu pela similaridade com São Luís.
“Academia Vianense de Letras
Nobre motivo da nossa reunião
Que será para sempre abençoada
Pela Virgem da Conceição – bis (os dois últimos versos)”
Percebi o quanto a dileta confreira Fátima Travassos faz a diferença naquele município – há dois anos construiu a sede da AVL e segue a sua missão com inúmeras iniciativas com o propósito de elevar a literatura, a arte e a cultura Vianense, além de promover o espaço dos beletristas em parceria com os demais Acadêmicos da AVL no progressivo campo de intelectuais, escritores e poetas magistrais da baixada maranhense.
“Viana, berço de cultura
Notáveis são teus filhos no saber
Divulgam nossa terra com orgulho
Em verso e prosa teu viver”
A saudade batia forte e tínhamos que regressar para casa. Saímos de Viana na tarde de um sábado ensolarado de 29 de janeiro de 2023, enquanto eu dirigia o meu Renault branco cor da paz, da pureza, inocência, verdade e honestidade no caminho de volta para a Ilha do Amor ao cair da noite, quando a luz do sol se escondia para dormir deixando a estrada nebulosa, turva, opaca, triste e misteriosa.
“Teus imortais, vultos brilhantes
Pesquisam com amor e paixão
Tua história, ó Viana
Enche de glória o Maranhão – bis (os dois últimos versos)”
A chuva intensa associada à negridão dificultava a visualização da pista esburacada, sem sinalização adequada o que aumentava a nossa ansiedade a cada segundo – não éramos três como na viagem de ida, tínhamos a companhia da confreira Dilercy Adler convidada a retornar conosco para a Terra das Palmeiras, onde cantavam os sabiás.
“Ó Viana, cidade dos músicos
Que eternizaram teu perfil
Musicalmente és reconhecida
No grande acervo do Brasil”
Precisávamos chegar em casa, todavia a insegurança e o medo ganhavam lugar de destaque até que as nuvens carregadas se esvaziaram dando lugar ao céu estrelado. Assim, com o brilho das estrelas e a alegria da volta para o doce lar, estávamos no porto seguro, felizes pela oportunidade de conviver com pessoas maravilhosas durante a breve estada na histórica cidade de Viana, que passaria a partir daquela data a fazer parte da nossa história. Viva a Academia Vianense de Letras! Até breve Viana! Vou-me embora para São Luis, sabendo quem tu és, a sete chaves guardada, mas ainda descuidada, apesar de muito amada. Mereces ser bem tratada! Deus seja louvado!
“Eu te conheci, Viana
Preservarei boa memória.
Sei que não és leviana:
construíste a tua história.”
(José Carlos Sanches)
São Luís, 01 de fevereiro de 2023.
José Carlos Castro Sanches
É químico, professor, escritor, cronista e poeta maranhense. Membro Efetivo do PEN Clube do Brasil, da Academia Luminense de Letras, da Academia Maranhense de Trovas, da Academia Atheniense de Letras e Artes, da Sociedade de Cultura Latina do Maranhão, da União Brasileira de Escritores e da Associação Maranhense de Escritores Independentes.
Autor dos livros: Colheita Peregrina, Tenho Pressa, A Jangada Passou; No Fluir das Horas é tempo de ler e escrever, A Vida é um Sopro!, Gotas de Esperança, Pérolas da Jujuba com o Vovô e Pétalas ao Vento.
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NOTA: Esta obra é original do autor José Carlos Castro Sanches e está licenciada com a licença JCS01.02.2023. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas. Esta medida fez-se necessária porque ocorreu plágio de algumas crônicas do autor, por outra pessoa que queria assumir a autoria da sua obra, sem a devida permissão – contrariando o direito à propriedade intelectual, amparado pela Lei nº 9.610/98, que confere ao autor direitos patrimoniais e morais da sua obra.
Fatima Travassos
14 de fevereiro de 2023 at 12:52
Admirável escritor , cronista e poeta José Carlos Sanches. Obrigada por ter , com a sua presença , abrilhantado a nossa posse, da Diretoria e Conselho Fiscal da AVL.
O seu l texto faz um passeio pela história de nossa academia e da nossa Viana, terra natal.. obrigada pelo carinho e desejamos seu retorno breve como membro correspondente da nossa prestigiada Academia. Vianense de Letras.!!!🤗