1236657.1677ed0.a1d49e5be45046c98447636dfa3d9e34
Oferece a você a oportunidade de leitura e reflexão sobre textos repletos de exemplos, experiências e lições que irão transformar a sua vida.

DO SILÊNCIO AO ARREBOL

“O silêncio está tão repleto de sabedoria e de espírito em potência como o mármore não talhado é rico em escultura.” (Aldous Huxley)

O Silêncio era ensurdecedor. O que parecia ser um momento igual a todos os outros, não era. Refiro-me ao privilégio de voltar ao trabalho após enfermidade causada pelo coronavírus. Existem dias que o mundo parece desmoronar sobre nós, em que o corpo pede cama, a cabeça flutua na dúvida, insegurança e medo e a energia para realizar coisas simples escasseia. Foi o que ocorreu comigo na primeira quinzena de julho de 2022. Diante da súbita ocorrência precisei arrancar forças das profundezas do meu ser para superar as adversidades que limitavam as ações e assombravam os meus pensamentos. O maior assombro é o medo da morte, talvez porque eu não esteja preparado para ela. Preciso aprender com quem esteja. Essa foi a primeira lição aprendida, outras virão no decorrer da narrativa. Siga a leitura que entenderá o que digo.
Na manhã de 13 de julho de 2022, recebi uma mensagem da filha caçula Danielle : “paizinho bom dia, tudo bem, acordei hoje pensando no senhor. Quero saber como está se sentido. Me ligue para a gente conversar. Estou achando o senhor muito quieto, um beijo pai”. Após a nossa conversa decidimos que eu iria consultar com Dr. Aminadabe Rodrigues, assim foi feito. Ela pressentiu o meu silêncio durante o isolamento de 13 dias em que me esquivei dos contatos e limitei minhas publicações, apesar de continuar escrevendo quando tinha ânimo. Talvez alguém tenha percebido, mas poucos se manifestaram diretamente a mim senão ela e familiares próximos, afinal não era do conhecimento de todos o que se passava comigo. Mantendo o silêncio preservávamos a privacidade em tempo de comunicação fluida.
“Se soubéssemos quantas e quantas vezes as nossas palavras são mal interpretadas, haveria muito mais silêncio neste mundo.” (Oscar Wilde)

Foram quinze dias de intensa reflexão, encorajamento recíproco entre o casal (eu e minha esposa), simultaneamente acometidos pelo coronavírus, essa praga que sofre mutações diversas e se fortalece a cada dia; destrói famílias, maltrata e atormenta a todos. Os dias longos, as noites de tormento, calafrios e pesadelos são desastrosas e o veneno produzido pela mente insegura destrói as esperanças. O fastio diante da comida farta, é triste passar por isso como eu disse para a minha filha Fabielle: “É incrível que às vezes temos o alimento e não temos fome. Outros têm fome e não têm alimentos. Paradoxos da vida.” E ela respondeu: “É verdade pai e graças a Deus pelas providencias dele que a gente tem essas duas opções ter comida e não ter fome e, ter fome e ter comida. É ser muito grato mesmo porque nada nos falta.” Durante os dias que passamos recolhidos fomos deveras abençoados apesar do distanciamento das pessoas pela necessidade de prevenção de contágio o alimento era farto entregue na porta de casa pelas filhas e genros: peixada, arroz, feijão, galinha, macarrão, água de coco dentre outros, o que faltava era vontade de comer.
Precisávamos do colo amigo, palavras de conforto, incentivo e da presença das pessoas que se distanciaram pelo medo natural da contaminação. Elas sem intenção, nos deixaram solitários, enclausurados e escravizados pela doença. Como fazemos com todos que sofrem do mesmo mal, mantemos distância segura. Lembro-me da última passagem que tivemos com a vizinha no cruzamento de uma passarela estreita no condomínio onde moramos quando pudemos perceber o malabarismo da amiga para não manter contato conosco, éramos a encarnação do vírus diabólico que todos deveriam rejeitar em nome da própria sobrevivência, imagine os doentes solitários nos leitos dos hospitais sem o apoio dos familiares e amigos, o quanto devem sofrer com a distância, solidão e eventual desprezo. Sei que estão na proteção de Deus, mas não os abandonem. A palavra, o carinho e o afeto são revigorantes, néctar precioso para suas vidas. Tínhamos dois anjos médicos a Dra. Denise Barros e o Dr. Felipe Lima que prescreviam os medicamentos, exames e nos orientavam à distância para o tratamento adequado, nossa gratidão aos dois.
“O vocabulário do amor é restrito e repetitivo, porque a sua melhor expressão é o silêncio. Mas é deste silêncio que nasce todo o vocabulário do mundo.” (Vergílio Ferreira)

Como disse a enfermeira quando realizava o teste: “essa doença não é pra gente”. Talvez tenha sido criada para os ratos, pelos homens maus que disseminaram o vírus pelo mundo com o propósito de destruir a humanidade e causar pânico. Só nos resta uma saída: a proteção divina associada com a fé e o equilíbrio mental para superar a enfermidade maligna. Graças a Deus que o próprio homem que produz o veneno é capaz de fabricar o remédio para a cura das doenças.
Algumas lições foram reforçadas nestes dias de “cárcere privado”: não somos uma ilha, precisamos interagir e ajudar-nos mutuamente; não existe prevenção e garantia de que estamos livres do contato com o vírus, portanto devemos seguir os procedimentos profiláticos; quando estamos fragilizados a mente divaga por territórios incógnitos e precisamos reforçar os pensamentos positivos; o medo e a incerteza criam monstros que destroem crenças tendo como única saída segura sustentar-se na fé e na sabedoria divina.
As cicatrizes deixadas pelo sofrimento são como o arco-íris que nos permite ver o brilho na diversidade das cores, o que parecia escuridão e trevas se fez luz. Crescemos nos momentos de dor; reavaliamos a essência da vida e reforçamos a convicção sobre a importância de vivermos intensamente o presente sendo solidários, generosos e expressando gratidão pelas pequenas coisas se recebemos.
Como disse o amigo médico Aminadabe durante uma consulta: “Hoje ao amanhecer eu agradeço pela respiração, pelo ar, pelo simples fato de poder respirar”. Eu digo que podemos dedicar mais tempo para agradecer pelas bênçãos recebidas em vez de reclamarmos de tudo. Que bom que pude voltar ao trabalho, reencontrar com os colegas sadios, enquanto o tempo passa ligeiro e a vida segue.
É preciso acreditar que a magia da vida provém do nosso olhar; que as estrelas brilham para nos alegrar; que o sol nasce e se põe para mostrar que existe claridade e negridão; crer na supremacia de um ser onipotente, onipresente e onisciente, não devemos sofrer por antecipação. A magia da vida está em percebermos o silêncio e dele retirarmos a essência para continuamos nossa missão. Cada um tem a sua e o tempo determinado pelo criador para cumpri-la com excelência.
“Como a abelha trabalha na escuridão, o pensamento trabalha no silêncio e a virtude no segredo.” (Mark Twain)
Enquanto o tempo passava a preocupação se diluía e a inspiração chegava eu escrevia: Seguindo o nada; Suando frio; Água de coco; O catador de latas; Nina Rodrigues; Preciso ser diferente; Só sobrou a esperança; O sono vence o poeta; Novo dia; Olhando os pássaros; Não parei de escrever; A tecla CTRL travou; O pelo do gato; Mergulho profundo e Itapecuru. Paralelamente li o “Campo de Batalha da Mente – Vencendo a batalha em sua mente de Joyce Mayer. Como disse um colega escritor: “ Eu precisava estar no clima para ler este livro e o clima chegou. Por isso é sempre bom ter bons livros em casa, na hora certa eles serão lidos.
O tempo segue infinitamente enquanto o meu coração bate apressado; a mente transita entre os extremos da sanidade e loucura; os pensamentos vagueiam como pétalas ao vento sem rumo e sem direção em busca de um porto seguro entre a emoção e a razão, tornando a vida prazerosa e digna do silêncio oportuno. Hoje volto ao trabalho depois de 15 dias meditando sobre a vida com um olhar diferente.
Agora encerro apreciando o momento mágico de transição de luzes do dia para a noite. A cor da luz solar refletida nas nuvens no pôr do sol alaranjado e avermelhado chamado de Arrebol. Deus seja louvado! Viva a vida!
“No final, não nos lembraremos das palavras dos nossos inimigos, mas do silêncio dos nossos amigos.” (Martin Luther King)

São Luís, 15 de julho de 2022.
José Carlos Castro Sanches
É químico, professor, escritor, cronista e poeta maranhense. Membro Efetivo da Academia Luminense de Letras, da Academia Maranhense de Trovas, da Academia Rosariense de Letras, Artes e Ciências, da Academia de Letras, Artes e Cultura de Coroatá, da Associação Maranhense de Escritores Independentes, da União Brasileira de Escritores e do PEN Clube do Brasil.

Autor dos livros: Colheita Peregrina, Tenho Pressa, A Jangada Passou; No Fluir das Horas é tempo de ler e escrever, A Vida é um Sopro, Gotas de Esperança, Pérolas da Jujuba com o Vovô e catorze livros inéditos. Visite o site falasanches.com e a página “Fala, Sanches” (Facebook) e conheça o nosso trabalho.

Adquira os Livros da Tríade Sancheana: Colheita Peregrina, Tenho Pressa e A Jangada Passou, na Livraria AMEI do São Luís Shopping ou através do acesso à loja on-line www.ameilivraria.com; os livros da Trilogia da Vida: No Fluir das Horas, Gotas de Esperança e A Vida é um Sopro!, no site da Editora Filos: https://filoseditora.com.br/?s=Sanches
Os Livros “Pérolas da Jujuba como Vovô” e “Pétalas ao Vento” com edição limitada você poderá adquirir diretamente com o autor ou na Livraria AMEI do São Luís Shopping ou através do acesso à loja on-line www.ameilivraria.com

NOTA: Esta obra é original do autor José Carlos Castro Sanches e está licenciada com a licença JCS15.07.2022. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas. Esta medida fez-se necessária porque ocorreu plágio de algumas crônicas do autor, por outra pessoa que queria assumir a autoria da sua obra, sem a devida permissão – contrariando o direito à propriedade intelectual, amparado pela Lei nº 9.610/98, que confere ao autor direitos patrimoniais e morais da sua obra.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *