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Oferece a você a oportunidade de leitura e reflexão sobre textos repletos de exemplos, experiências e lições que irão transformar a sua vida.

QUANTO VALE UMA VIDA?

“Apesar da vida humana não ter preço, agimos sempre como se certas coisas superassem o valor da vida humana.” Antoine de Saint-Exupéry

Chegou 2019 todos alegraram-se com a nova perspectiva de vida e o alvorecer da aurora, num pais carente de emprego e oportunidades, onde o povo sofrido se ajusta às adversidades para mendigar o pão de cada dia. E as grandes empresas se arvoram em busca do lucro fácil, sem as devidas providencias para assegurar a integridade e bem estar das pessoas, tampouco preservar o meio ambiente onde operam. Os valores, políticas e princípios são meros objetos de decoração nas paredes e propaganda nas mídias compradas.

O rompimento da barragem de Brumadinho, em 25 de janeiro de 2019, resultou em um dos maiores desastres com rejeitos de mineração no Brasil. A barragem de rejeitos classificada como de “baixo risco” e “alto potencial de danos”, era controlada pela Vale S.A. e estava localizada no ribeirão Ferro-Carvão, na região de Córrego do Feijão, no município brasileiro de Brumadinho, a 65 km da capital mineira, Belo Horizonte.

A triste tragédia ocorrida há 13 dias em Brumadinho é o retrato fiel do falso compromisso das mineradoras com a vida e com as comunidades onde se instalaram. Exploram as reservas minerais, manipulam o ecossistema, destroem mananciais, nascentes e poluem os riachos, rios, mares e tudo que está em sua volta e nada acontece para detê-los da ânsia malvada e destruidora que se assoberba a cada dia. 

“A morte é sempre e em todas as circunstâncias uma tragédia, pois, se não o é, quer dizer que a própria vida passou a ser uma tragédia.” Theodore Roosevelt

Brumadinho é um município do estado de Minas Gerais, localizado na Região Metropolitana de Belo Horizonte e sua população estimada em 2018 era de 39 520 habitantes.

A barragem da mineradora Vale que rompeu em Brumadinho, usava tecnologia de construção considerado por especialistas uma opção menos segura e mais propensa a riscos de acidentes. O método chamado de alteamento a montante, permite que o dique inicial seja ampliado para cima quando a barragem fica cheia, utilizando o próprio rejeito do processo de beneficiamento do minério como fundação da barreira de contenção. 

O rompimento da barragem derramou um mar de lama, atingindo casas, uma pousada, um refeitório e outros locais, deixando ao menos 150 mortos e 182 pessoas, entre funcionários do quadro e terceirizados, estão desaparecidos (até 06.02.19). Registram-se 108 pessoas desabrigadas, 395 localizadas e que 23 sobreviventes estão hospitalizados.

“A morte de uma pessoa é uma tragédia; a de milhões, uma estatística.” Joseph Stalin

Uma avalanche de resíduos descontrolados, sem rumo e direção – arvorou-se sobre inocentes, moradores, trabalhadores que sucumbiram sem chance de sobrevivência diante da insanidade e irresponsabilidade dos incautos, que em nome do progresso e do desenvolvimento ceifam vidas, destroem a natureza e aniquilam famílias. Uma dor sem tamanho, num velório sem corpos. 

As calamidades se repetem sem providencias. Em 2015, foi a barragem de Mariana, com centenas de mortos, destruição de rios, comunidades inteiras soterradas, famílias destroçadas; alguns até hoje não indenizados pelas perdas, a lama espalhada permanece matando peixes, poluindo rios e mares e, o povo lamentado e sofrendo sem o apoio das grandes mineradoras que tomaram posse das suas terras e trouxeram na bagagem incerteza e insegurança para o povo dos arredores, apoiados por autoridades e governantes que se escondem na burocracia, nas leis frágeis e nada fazem para resolver o problema. 

Tragédia de Mariana: 05/11/15 – Empresa: SAMARCO; 19 mortos. O rompimento da barragem de Fundão é considerado o desastre industrial que causou o maior impacto ambiental da história brasileira e o maior do mundo envolvendo barragens de rejeitos, com um volume total despejado de 62 milhões de metros cúbicos. A lama chegou ao rio Doce, cuja bacia hidrográfica abrange 230 municípios dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, muitos dos quais abastecem sua população com a água do rio.

Tragédia de Brumadinho: 25/01/19 – Empresa: VALE: 150 mortos (até 06.02.19). Ainda não estimada a área atingida e o volume total despejado. A avalanche de lama e rejeitos de mineração devastou parte da cidade.

“A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa.” Karl Marx

Desta vez foi em Brumadinho. E amanhã, onde será?

Viu-se nestes dias o sentimento de solidariedade exacerbado entre alguns e o oportunismo político de outros. A culpa e a desculpa se manifestam de lados opostos, e, a catástrofe deixa o rastro da perversidade humana sobre os menos privilegiados. As leis fracas não conseguem punir os culpados, nem sequer barrar o avanço das irregularidades previamente identificadas e não controladas adequadamente. 

As barragens continuam ruindo, os dejetos lançados a esmo no solo, vegetação, rios e adjacências. Os seres humanos abatidos sem escrúpulo, pelos investidores que além de explorar as nossas riquezas minerais, sacrificam e matam inocentes. Três anos depois, vítimas de Mariana ainda esperam ter casas reconstruídas. Enquanto escrevia esta crônica contavam 150 mortes e tragédia em Brumadinho supera a de Mariana em 2015, que teve 19 vítimas fatais.

As autoridades não avaliam de forma coerente os projetos, desconhecem ou se omitem a aplicar técnicas reconhecidas para construção de barragens, ainda assim, autorizam a operação. 

Quanto ganham com a aprovação destes projetos? A vida humana e o meio ambiente tem algum VALOR para essa gente? Quanto VALE uma vida? Quanto VALE um rio? Cada animal? Uma árvore? Uma comunidade soterrada? 

Os dias passam e, em breve ficará apenas a lembrança de mais um crime ambiental. O legislativo não criará leis mais severas para punir os desvios; o executivo não limitará as licenças de construção e operação de barragens; o judiciário, não cumprirá o seu papel de condenar os culpados; a imprensa não divulgará a verdade dos fatos; os políticos continuarão a levar vantagens para proteger os malfeitores. Todavia, os mortos não ressuscitarão; as comunidades submersas não flutuarão; as famílias despedaçadas nunca mais se encontrarão; e tudo parecerá normal, até que uma nova catástrofe se apresente. Assim, é o Brasil, brasileiro, terra de samba e pandeiro. 

Quantos choram a perda de um familiar? De um amigo? De um colega de trabalho? Quem irá trazê-los de volta para o convívio?

“As nossas tragédias são sempre de uma profunda banalidade para os outros.” Oscar Wilde

Que Deus abençoe as famílias aniquiladas pelo grave acidente, que poderia ter sido evitado, se cada parte envolvida no processo cumprisse de forma responsável o seu papel. 

O justo entendimento e atuação consistente de cada parte envolvida poderia levá-los a valorizar e respeitar a vida dos cidadãos e o meio ambiente onde se instalaram, em detrimento do lucro e produção. Uma vida não tem preço!

A ambição desenfreada, a complacência dos políticos, autoridades, empresários e investidores, associado à insensibilidade com a vida e a má gestão dos negócios leva a resultados indesejados. O que vale mais, vale menos. O que pode mais pode menos. 

E a corda arrebenta sempre do lado mais fraco com consequências irreparáveis. Como disse um morador após a tragédia: “O pobre não pode pescar um peixe que é preso, mas as grandes empresas podem destruir vidas e o meio ambiente e nada acontece. Dois pesos e duas medidas.”

“Não, a pior tragédia não é a que tomba inesperada, rápida, definitiva e única como um raio e que pode ser atribuída a castigo divino…Mas a que se arrasta quotidianamente, surdamente, monótona como chuva miudinha.” Mario Quintana

O desafio é reconstruir famílias, revitalizar rios, recuperar o meio ambiente degradado e criar uma nova mentalidade para evitar a recorrência de tragédias passiveis de controle. Visto que, em sua maioria, as causas raízes foram identificadas antecipadamente e nenhuma ação foi tomada para evitar o desastre. 

Os cidadãos brasileiros almejam que as autoridades competentes, líderes empresariais e governantes sejam proativos e ajudem a construir um novo Brasil, sem tragédias evitáveis, com leis mais severas aplicadas a todos os culpados, e, que a mídia, seja parceira e porta voz da verdade, relatando fatos sem viés político e distorção da realidade, em busca de um Brasil melhor e mais justo, onde impere o respeito, a ordem e o progresso. Esse é o meu sonho!

“A marca de sua ignorância é a profundidade da sua crença na injustiça e na tragédia. O que a lagarta chama de fim de mundo, o mestre chama de borboleta.” Richard Bach

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