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Oferece a você a oportunidade de leitura e reflexão sobre textos repletos de exemplos, experiências e lições que irão transformar a sua vida.

A DOR É TEMPORÁRIA!

José Carlos Castro Sanches

“O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.”
(Fernando Pessoa)

Sempre escrevo sobre o que penso, vejo, sinto, ouço, degusto, respiro e transpiro. Busco transcrever a realidade de cada momento. Hoje estou num consultório com a minha esposa, aguardando uma consulta e resolvi escrever sobre a dor. Quero iniciar esta crônica com uma frase de Voltaire: “A dor é tão necessária como a morte”. Com o propósito de instigá-lo a continuar a leitura e tirar as suas próprias conclusões sobre a temática em questão. Não se julgue superior, não subestime a dor, nem o amor. Boa leitura e reflexão!

“Os arrogantes são como os balões: basta uma picadela de sátira ou de dor para dar cabo deles. ” (Madame de Staël)

Sinto uma dor cansada nas costas, não sei se pelo fato de estar sentado por longo tempo numa cadeira desconfortável ou devido a alguma inflamação. Quero transformar esse assento no meu escritório e a partir do desconforto encontrar o prazer da escrita, transformando a cansativa espera em “ócio criativo”. De verdade, a dor traz a sisudez, muda o meu modo de ser, e, leva o meu bom humor para bem distante.

“Correndo em busca do prazer, tropeça-se com a dor. ” (Barão de Montesquieu)

Como sou apegado ao meu corpo, sempre que algo me incomoda, em se tratando de saúde, fico logo muito triste, preocupado, melancólico e deprimido. Sempre suspeito que a doença pode interromper os meus planos e bloquear a realização dos meus objetivos e sonhos. Apesar de muitos acreditarem que a dor traz reflexão, ensinamentos e sabedoria.

“Dizem que a dor nos torna sábios. ”  (Alfred Tennyson)

Normalmente me isolo, pensativo e busco algo que possa aliviar aquela sensação desagradável. Mas, a dor e o mal-estar permanecem – parece que a vida fica desprotegida e o medo toma conta de mim.

“Todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente. ” (William Shakespeare)

Daqui de onde escrevo vejo ao lado e à minha frente os pacientes sentados à espera do atendimento. A minha querida esposa Socorro Sanches a conversar alegremente com duas grandes amigas Ana Virginia Maciel e Vilma Marins, que se encontram no consultório. Amizade que prospera desde os tempos de Colégio Batista, onde mãe e avó reencontravam a professora dos filhos e netos. Falavam de perdas e boas lembranças, também de superação e esperança.

“O homem que não conhece a dor, não conhece a ternura da humanidade. ” (Jean-Jacques Rousseau)

Todos ali esperavam, enquanto eu esperava e escrevia esta crônica, sequer imaginavam que estavam sendo observados e retratados para a eternidade neste livro que escrevo, sem o conhecimento deles.

“A felicidade que o homem pode alcançar, não está no prazer, mas no descanso da dor. ” (John Dryden)

Do pavimento superior onde estou vejo os movimentos dos carros, das pessoas, os telhados dos casarões antigos de São Luís e, também, os pombos a voarem serenamente, como se nada estivesse acontecendo. Voavam livremente como se não existisse a dor, não vivem a lamentar pelo sofrimento, apenas agradecem pela vida.

“Lamentar uma dor passada, no presente, é criar outra dor e sofrer novamente. ”  (William Shakespeare)

A moça bonita de vestes curtas, pernas grossas e bolsa vermelha pendurada no ombro esquerdo, caminhava pela rua como se desfilasse na passarela da moda. Parecia nunca ter sentido dor alguma na vida. Apenas transparecia liberar felicidade pelas ruas e calçadas da cidade por onde passava exuberante e bela. E talvez, cheirosa pelo que de longe vi, no seu cuidadoso modo de vestir-se. O prazer dela deveria ser chamar a atenção por onde passasse e pelo que descrevo conseguiu a minha breve admiração.

“O sábio procura a ausência de dor e não o prazer. ” (Aristóteles)

Os motoqueiros cruzavam as ruas, o carteiro andava rápido para entregar as encomendas, cartas e envelopes aos destinatários. E a moça com o chapéu de sol verde se protegia dos raios solares. O que me parecia excesso de zelo com a pele. Provavelmente alguma coisa faria com que necessitasse daquele apetrecho, aparentemente inútil, mas não sei a dor que sentira antes para tomar a decisão de usá-lo, portanto, não posso julgá-la de onde estou, sem sequer conhecê-la.

“A recordação da felicidade já não é felicidade; A recordação da dor ainda é dor. ” (George Lord Byron)

O vendedor de “lanches” passava com a sua bicicleta, clamando pelos clientes, que pareciam não estarem interessados no seu produto. Ele sofria da dor da espera pelos compradores que não chegavam. Mas, sabia que a esperança é a última que morre e jamais poderia desistir da vida.

“O limite de cada dor é uma dor maior. ” (Emil Cioran)

Um senhor com as sacolas de supermercados transitava com as mãos ocupadas em direção à sua casa, alegre e apressado, levava a comida para os seus familiares. Parecia determinado sem remorso, de que fazia o que era possível para alimentar os rebentos.

“O remorso é a única dor da alma, que nem a reflexão nem o tempo atenuam. ” (Madame de Staël)

Uma ambulância passava pela Rua do Passeio, silenciosa em direção ao hospital mais próximo, parece que tudo estava bem, não havia sirene, nem pressa. Não sabemos o prazer de quem convive com a dor, mas temos a certeza de que ela fere e machuca, ao mesmo tempo que purifica o espirito.  

“A felicidade é salutar para o corpo, mas só a dor robustece o espírito. ” (Marcel Proust)

Um empregado da Caema parou em frente de uma casa e bateu no portão por alguns minutos, à espera do atendimento. Ele estava com um boné vermelho, uma mochila preta nas costas, camisa de mangas compridas azul com a logomarca da empresa. Não demonstrava dor, parecia feliz e paciente na sua missão, que nem imagino qual seria.

“Prazer e Dor são representados com os traços gêmeos, formando como que uma unidade, pois um não vem nunca sem o outro; e se colocam um de costas para o outro porque se opõem um ao outro. ” (Leonardo da Vinci)

Tudo era movimento, eu daqui observava, pensava e escrevia contando a história de alguém que não sabia da minha existência e sequer imaginava que estaria sendo observado e retratado para a posteridade. Eu descrevia os fatos, sem identidade, sem nome, mas com o sentimento, emoção e dor. Aprendia as lições através dos movimentos e do silêncio.

“Nunca se esquecem as lições aprendidas na dor. ” (Provérbio africano)

A vida é assim, enquanto alguns correm, outros estão parados; enquanto alguém escreve muitos caminham; enquanto uns nascem, outros morrem; enquanto a dor atormenta, o prazer e a felicidade sustentam; enquanto poucos cantam, muitos choram; enquanto a garota passeia, o pai dorme. Enquanto eles odeiam, eu amo.

“Só uma palavra nos liberta de todo o peso e da dor da vida: essa palavra é o Amor. ” (Sófocles)

E as surpresas continuavam a aflorar diante daquele mirante de onde eu observava os transeuntes. A mulher que passou há alguns minutos com o guarda sol verde, voltou carregando uma criança pesada nos braços, mal conseguia segurar o guarda sol. Agora entendi o porquê da proteção que julgava excessiva. Era a mãe que foi buscar o filho na escola e queria vê-lo protegido do sol. Não aceitaria que o fruto do seu ventre sentisse a dor causada pelos raios do sol, naquela pele sensível de criança. Embora que a dor seja temporária, ainda assim, uma mãe cuidadosa não submeterá o seu filho a ela. Mãe é mãe!

“O homem é um aprendiz, a dor é a sua mestra, e ninguém se conhece enquanto não sofreu. ”(Alfred de Musset)

Assim é a vida! Cada um tem seus motivos; propósitos; objetivos e sonhos. Todos têm dificuldade para superar; querem uma vida melhor; têm a sua dor; a sua alegria; o seu prazer; todos querem ser felizes e ter um lugar ao sol. Eu também!

“Cada adversidade, cada fracasso, cada dor de cabeça carrega consigo a semente de um benefício igual ou maior. ”   (Napoleon Hill)

O que era dor passou a ser reflexão. Quando tirei a atenção do problema, ele ficou esquecido e desapareceu. Parece que a atividade concentrada é o melhor remédio para a dor. Tira o foco dos problemas e preocupações secundárias e tudo flui naturalmente. Mas, voltamos à realidade e a dor volta. Afinal, a dor é um amuleto para lembrar que estamos vivos e sentimos. Sem ela tudo seria monótono, sempre igual, não valorizaríamos o prazer, a satisfação, a alegria e a felicidade.

“O homem a quem a dor não educa, será sempre uma criança. ” (Niccolo Tommaseo)

Vivemos neste ciclo de prazer, dor, amor, poesia, felicidade, solidão, alegria, sofrimento, gratidão, tristeza, realização, ansiedade, sonho, realidade, estresse e mansidão. Miséria e abundancia, no alto e no baixo da roda gigante que continua rodando sem parar, enquanto a vida passa efêmera, como um cometa, sem a certeza da volta. 

“Não há maior dor do que a de nos recordarmos dos dias felizes quando estamos na miséria. ”  (Dante Alighieri)

Como os batimentos do coração, vivemos num eterno sobe e desce com a certeza de que existe um Deus que nos abençoa, protege e faz a nossa vida ter sentido. Ainda que a dor permaneça. Ele supre a nossa vida com amor. Ele cura a nossa dor com eterno amor. Deus é fiel!



“A dor é temporária. Ela pode durar um minuto, ou uma hora, ou um dia, ou um ano, mas finalmente ela acabará e alguma outra coisa tomará o seu lugar. Se eu paro, no entanto, ela dura para sempre. ” (Lance Armstrong)

São Luís, 02 de outubro de 2020.

José Carlos Castro Sanches

É químico, professor, escritor, cronista e poeta maranhense.

Membro Efetivo da Academia Luminense de Letras, da Academia Maranhense de Trovas, da Associação Maranhense de Escritores Independentes, da União Brasileira de Escritores e do PEN Clube do Brasil.

Visite o site falasanches.com e a página “Fala, Sanches” (Facebook) e conheça o nosso trabalho.

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NOTA: Esta obra é original do autor José Carlos Castro Sanches e está licenciada com a licença JCS02.10.2020. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas. Esta medida fez-se necessária porque ocorreu plágio de algumas crônicas do autor, por outra pessoa que queria assumir a autoria da sua obra, sem a devida permissão – contrariando o direito à propriedade intelectual, amparado pela Lei nº 9.610/98, que confere ao autor direitos patrimoniais e morais da sua obra.

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