Por José Carlos Castro Sanches
Site: www.falasanches.com
Extrato do original publicado em 07 de fevereiro de 2017, na crônica: “Por que a Engenharia Civil me fascina”, do Livro “A Jangada Passou.”

“Mas a saudade é isto mesmo; é o passar e repassar das memórias antigas. ” (Dom Casmurro)
Enquanto escrevia sobre um outro tema rememorei uma importante fase da minha vida e lembrei-me de um fato curioso que ocorreu durante uma visita que fiz ao Padre João Mohana. Julguei pertinente compartilhar o aprendizado com os leitores nas linhas que se seguem.
“O padre João Mohana – maranhense de Bacabal, autor das obras: O outro caminho, Maria da Tempestade, O marido de Conceição Saldanha, O mundo e Eu, Sofrer e Amar, entre inúmeros livros – foi um grande inspirador da minha vida. Encontrávamo-nos todos os domingos na Igreja da Sé em São Luís. Eu participava de um grupo de jovens talentosos, orientados pelo saudoso sábio, mestre das letras e oratória, padre, escritor e médico, João Mohana, a quem devo reverência por tudo o que aprendi nos encontros dominicais durante os anos em que frequentei a Pré-JUAC e a JUAC (Juventude Universitária Autêntica Cristã). Tenho boas lembranças dos amigos, colegas, correligionários e contemporâneos da Pré-JUAC e JUAC. Aprendi muito com todos.

“A vida nos dá alguns presentes. Um dos melhores são as lembranças, e um dos piores são as saudades. ” (Kaoe Abiles)
A JUAC foi criada pelo padre João Mohana, em 1975, com o objetivo de formar líderes. Certa vez, naquele tempo de dúvidas, que atormentava a minha mente durante a “aborrecência”, fase de transição, incertezas e medos, fui ao encontro do padre João Mohana, na casa dele, na rua Afonso Pena, próximo ao antigo “Ferro de engomar”, no centro de São Luís. Ele atendia a comunidade e os participantes da JUAC e Pré-JUAC, era um “coaching” de alto gabarito para quase todas as questões religiosas, familiares e orientação de casais.

Nessa época, eu cursava o 2º grau (ensino médio) no colégio Ateneu “Teixeira Mendes”, em São Luís, e participava da Pré-JUAC (participavam da Pré-JUAC, os jovens do ensino médio que aspiravam ao curso superior, e da JUAC, aqueles que cursavam a universidade). Pude participar dos dois grupos – uma grande bênção em minha vida. Aprendi com um grande mestre ensinamentos que trago comigo para toda a vida.

“As boas lembranças são como as músicas bonitas. Você não quer que elas acabem nunca. ” (The Good Doctor)
Numa daquelas dúvidas existenciais sobre religião, queria entender porque os “Testemunhas de Jeová” chamavam Deus de Jeová e os Católicos o chamavam de Jesus Cristo. Aguardava, tímido e solitário, na antessala do gabinete de atendimento, para falar com o grande mestre João Mohana. Ao ser chamado – entrei naquela sala cheia de livros – um ambiente agradável, manso e sereno como o próprio João –, iniciamos a conversa. Ele indagou sobre o motivo da visita. Esclareci e lancei a pergunta que me atormentava, perguntei-lhe: “Por que aquela confusão de nomes de Deus entre religiões diferentes, se Deus era único e soberano”? Ele, educadamente de forma serena e equilibrada, retornou a pergunta para mim da seguinte forma: “Você sabe como se escreve a palavra açúcar”? É com dois esses “ss” ou com ‘c’ cedilhado “ç”?” Fiquei sem resposta.

Então, encerramos a nossa conversa; eu me despedi e saí da sala daquele homem circunspecto; eu estava desajeitado, tonto e confuso com mais dúvidas do que quando entrei naquele recinto. Essa talvez tenha sido a melhor resposta para o momento. Afinal aprendi que não temos e não devemos buscar resposta para tudo e que também não devemos buscar nos outros a resposta para as nossas inquietações e dúvidas, sem antes tentar respondê-las sozinhos. Aquela pergunta mexe comigo até hoje. Talvez, se tivesse recebido uma resposta em vez de uma indagação ou questionamento, não estivesse hoje escrevendo sobre esta lição aprendida.
É mais sábio aquele que sabe a hora certa de perguntar e a hora certa para responder. Saber ouvir é mais importante do que emitir qualquer opinião sobre sentimentos e aflições dos outros. Uma pergunta bem-feita pode fazer grande diferença na vida do outro. Talvez, por isso, as sessões de psicanálise surtam tanto efeito. Acho que João Mohana deve ter lido muito sobre Freud, afinal ele era também psicanalista. E eu, um simples mortal, permaneço com as minhas dúvidas e poucas certezas que prefiro não contar agora; deixarei para depois.

“Vamos parar por aqui, assim teremos apenas lembranças boas do que vivemos. ” (Filme doce novembro)
São Luís, 11 de dezembro de 2020.
José Carlos Castro Sanches. É Consultor de SSMA da Business Partners Serviços Empresariais – BPSE. Químico, professor, escritor, cronista, contista, trovador e poeta maranhense. Membro Efetivo do PEN Clube do Brasil, da Academia Luminense de Letras, da Academia Maranhense de Trovas, da Academia Literária do Maranhão, da Academia Maranhense de Ciências e Belas Artes, da Academia Rosariense de Letras Artes e Ciências, da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão, da Federação das Academias de Letras do Maranhão, da União Brasileira de Escritores, da Associação Maranhense de Escritores Independentes. Membro correspondente da Academia Arariense de Letras, Artes e Ciências, da Academia Vianense de Letras e da Academia de Ciências, Letras e Artes de Presidente Vargas. Tem a literatura como hobby. Para Sanches, escrever é um ato de amor e liberdade.

Autor dos livros: Tríade Sancheana: Colheita Peregrina, Tenho Pressa, A Jangada Passou; Trilogia da Vida: No Fluir das Horas, Gotas de Esperança e A Vida é um Sopro!; Pérolas da Jujuba com o Vovô, Pétalas ao Vento, Borboletas & Colibris (em parceria); Das Coisas que Vivi na Serra Gaúcha, Me Leva na Mala, Divagando na Fantasia em Orlando e O Voo da Poesia. Coautoria em diversas antologias brasileiras.

NOTA: Esta obra é original do autor José Carlos Castro Sanches e está licenciada com a licença JCS11.12.2020. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas. Esta medida fez-se necessária porque ocorreu plágio de algumas crônicas do autor, por outra pessoa que queria assumir a autoria da sua obra, sem a devida permissão – contrariando o direito à propriedade intelectual, amparado pela Lei nº 9.610/98, que confere ao autor direitos patrimoniais e morais da sua obra.
