Por José Carlos Castro Sanches
Site: www.falasanches.com

Num sábado ensolarado de 03 de outubro de 2020, após uma visita ao confrade Carlos Gaspar. Presidente da Academia Maranhense de Letras – AML, resolvi passar na casa da minha filha Rafaelle Sanches para visitar o meu neto Rafael Sanches Cutrim como gosta de ser chamado. Tem que ser o nome completo nada de apelido “Tetel” ou coisa parecida. Rafael é um garoto alegre, sorridente e conversador, muito inteligente, certamente de QI acima da média com facilidade de aprender e criar situações inusitadas para surpreender.
Logo ao chegar no apartamento 902, fui recebido por Rafael e sua querida mãe, com aquela alegria contagiante, certamente ficaram surpresos com a visita inesperada, não programada, a ponto de me perguntar porque tinha ido visitá-lo, com a pureza de criança que pergunta o que pensa, usando a linguagem da inocência.
Logo ao chegar fui orientado a tirar o sapato e colocar atrás da porta de entrada, entrei pela porta dos fundos que dá acesso à cozinha, mantive as meias pretas nos pés, sem sapatos. Rafael ao perceber que eu estava com as meias, logo pediu para sua mãe providenciar as suas; correu para o quarto e voltou com as meias calças quase na virilha, entendi que deveriam ser do seu pai, mas ele estava feliz com a vestimenta bizarra.

Eufórico queria brincar comigo, aproveitar o momento especial, perguntou-me com que brinquedo eu queria brincar, disse que trouxesse aqueles bonecos de pernas vermelhas, logo trouxe dois, um de pernas vermelhas e outro completamente vermelho; perguntei se tinha dinossauros, ele respondeu que não; disse que poderíamos brincar com a espada, ele respondeu que estava quebrada, então trouxe um robô a pilha que se movimentava acionado manualmente ou por meio de um controle remoto, o imponente malabarista fazia estripulias, rodava, caminhava para frente, para trás, para os lados, piscava as luzes no peito e nos olhos, acionava sirenes e até falava uma linguagem ininteligível que ele me pediu para dizer o que significava e eu tive que inventar umas falas para não frustrá-la na expectativa de uma resposta. Fiquei ali treinando a minha habilidade motora de operador de robô com controle remoto, coisa que nunca tinha feito antes, no meu tempo de criança não tínhamos essas possiblidades, sequer imaginava que um dia brincaria com algo similar.
Fiquei brincando por alguns minutos, enquanto ele sorria e, me acompanhava, ora em pé, outra sentado na cadeira de plástico presenteada pela vovó Socorro, outra no meu colo, assim brincamos bastante. Encerrada essa etapa ele trouxe outros brinquedos pequenos que disse serem os animais da fazenda: vaca, ovelha, cavalo, peru, pato, cachorro, porco, burro…e, um elefante. Não entendi porque o elefante animal das savanas africanas estava fazendo parte dos animais da fazenda em terras brasileiras, onde são vistos apenas no circo, mas ele disse que havia misturado com outros brinquedos por isso estava perdido entre os animais da fazenda. Assim continuamos a divertida brincadeira. Certo momento ele disse vovó que um suco, disse que sim. Ele perguntou em que copo. Respondi no mais bonito que você tiver. Chegou com um copo grande amarelo de plástico e um canudo para chupar. Lá estava eu “chupando no canudo” um gostoso suco de acerola ao lado do meu neto, voltei a ser criança.

Ele me perguntou: qual dos animais escolheria? Escolhi o peru. Ele ficou surpreso porque ninguém antes havia escolhido o peru e o porco. E me perguntou: por que o peru? Respondi: porque faz glu, glu, glu… pediu para a sua mãe escolher. Ela optou pelo cavalo, disse que era da vovó Lídia. Então dissemos para escolher o seu, pegou o cachorro. Disse para ele que se Julie, sua prima, estivesse conosco certamente ela também escolheria o cachorro, então ele de imediato providenciou esconder o animal numa pequena bolsa para não correr o risco de ser objeto de desejo de outra pessoa. De verdade ele não aceitava a ideia de que levaríamos os animais de brinquedo conosco para casa e disse que era apenas uma “brincadeirinha”.
Brincadeira vai, brincadeira vem, ele me convidou para almoçar, para surpresa da sua mãe que não estava programada para nos atender, visto que não havia preparado comida, para não o decepcionar reuniu o que tinha na geladeira e preparou um delicioso banquete “restê de untê”, em poucos minutos foi servida a refeição: bife, galinha, feijão, macarrão, arroz, banana, suco de frutas, com sobremesa de bolo de chocolate. Estávamos saciados e alegres com a novidade, e alegres pela benção de juntos podermos desfrutar de um momento em família.
Dentes escovados, após o almoço, voltei para recolher os objetos, pegar a minha mochila, quando então, tive a ideia de pegar uma caneta “bic” e dar de presente para Rafael. Ao entregar a caneta disse-lhe: essa caneta é para você escrever e se tornar grande um escritor.

Fui surpreendido com a felicidade dele ao dizer para sua mãe: “minha primeira caneta” que ganhei de presente de vovô José Carlos. Naquele momento percebi a pureza d’alma de uma criança e o valor das pequenas coisas, e, que a felicidade está nas coisas simples. O que vale a pena é tão pouco, que não se pode medir. A emoção transborda quando o coração se alegra, isso é o que importa.
Para uma criança, não importa o valor das coisas, o que importa é que elas sejam amadas, valorizadas, prestigiadas e tratadas como crianças com amor, carinho e respeito.
Diante da novidade da primeira caneta, pediu uma folha de papel para sua mãe e escreveu: “obrigado” Rafael. Eu acrescentei. Sanches Cutrim e a data: São Luís, 03 de outubro de 2020.

Encerrando esse momento único de felicidade ao lado do meu neto Rafael “Sorriso” pedi um copo d’agua para a minha filha, antes, porém, fui ao banheiro lavar as mãos e escovar os dentes, depois calcei os sapatos, dei um beijo no meu carinhoso neto, um tchau para a minha filha e segui para o elevador.
Desci reflexivo, passei pela guarita na portaria do prédio, agradeci ao atencioso e educado agente de portaria pelo atendimento e segui até o meu Ford Fiesta 1.6 Rocam Hatch 2014, que estava estacionado numa ladeira próxima ao prédio, saí de lá feliz e parece ter rejuvenescido uns quinze anos e segui para o meu lar doce lar, onde a minha linda dos olhos de mel estava à minha espera, com os bolos de milho e de tapioca que ela me pedira para comprar no “cantinho doce” caminho de volta para casa, depois de um dia diferente.
O que seria uma visita rápida como dizem “visita de médico”, durou mais de 3 horas junto ao meu neto e filha, e rendeu uma bela crônica retratando aquele momento impar que só ocorre uma vez na vida e deve ser valorizado. Devemos viver intensamente cada segundo, ao lado das pessoas que amamos. Afinal a vida é um sopro! E devemos vivê-la intensamente cada segundo como se fosse o último. Viva a vida! Viva a família! Viva a primeira caneta do meu neto!

São Luís, 05 de outubro de 2020.
José Carlos Castro Sanches
É químico, professor, escritor, cronista e poeta maranhense.
Membro Efetivo da Academia Luminense de Letras – ALPL

Autor dos livros: Colheita Peregrina, Tenho Pressa, A Jangada Passou; No Fluir das Horas é tempo de ler e escrever, A Vida é um Sopro, Gotas de Esperança e outros nove livros inéditos.
Visite o site: falasanches.com e a página Fala, Sanches (Facebook) e conheça o nosso trabalho como escritor, cronista e poeta.
Adquira os Livros da Tríade Sancheana, composta pelos livros: Colheita Peregrina, Tenho Pressa e A Jangada Passou, na Livraria AMEI do São Luís Shopping ou através do acesso à loja online www.ameilivraria.com.
NOTA: Esta obra é original do autor José Carlos Castro Sanches e está licenciada com a licença JCS05.10.2020. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas. Esta medida fez-se necessária porque ocorreu plágio de algumas crônicas do autor, por outra pessoa que queria assumir a autoria da sua obra, sem a devida permissão – contrariando o direito à propriedade intelectual amparado pela lei nº 9.610/98 que confere ao autor Direitos patrimoniais e morais da sua obra.