“As epidemias, como a saúde, carecem de critério. ” (Carlos Drummond de Andrade)
Era 17 de março de 2020. Acordei na madrugada após um sonho ou pesadelo confuso e, não consegui mais dormir. Uma certa indisposição e leve dor nas costas me fizeram levantar da cama. Dei um espirro, fui ao banheiro, o nariz escorria “a coriza” e um pigarro na garganta me incomodava.
Sabendo que o melhor era ocupar o tempo escrevendo sobre o ocorrido fui para o escritório, sentei na cadeira, liguei o computador e pus-me a escrever sobre o drama que vivia, juntamente com milhões de brasileiros diante da gripe que se alastrava pelo país, na velocidade da luz.
De certa forma acreditava que essa gripe não me acometeria. Logo na primeira possibilidade fiquei preocupado e pensei que poderia ser real essa tal pandemia, que até ontem era apenas uma fantasia na minha cabeça. Mas, vamos aguardar o “andar da carruagem” para ver no que vai dar. Porque o que atesta negativo no teste hoje, poderá ser positivo amanhã, portanto a prevenção é o melhor remédio.
Ainda bem que tudo não passou de um espirro involuntário e medo da gripe. Amanheci o dia preparado para enfrentar os desafios que me aguardavam naquela linda manhã ensolarada de março na Ilha de São Luís do Maranhão. Talvez o apego à vida e o amor à família me fizessem refletir de forma mais racional sobre a realidade que me circundava, não apenas com um olhar e a emoção de escritor e poeta, mas com a visão racional de químico e professor. Logo cedo, antes das 8h já havia concluído esta crônica que compartilho com os leitores.
O pânico toma conta do Brasil e as medidas de controle se acentuam, suspenderam as aulas nas escolas e universidades, algumas empresas pararam de produzir, outras restringiram a produção e acesso de pessoas inclusive empregados, as igrejas reavaliam as atividades religiosas, até os parques de diversão para crianças, cinemas, teatros, estádios fecharam e a recomendação mais prudente é ficar em casa com a família para reduzir a exposição, o número de doentes e a superlotação dos hospitais. Principalmente idosos e portadores de doenças crônicas.
A lógica matemática da pandemia é demoníaca. Quanto mais pessoas forem infectadas pelo vírus, maior o número de doentes nas UTIs dos hospitais, como o número de respiradores (ventiladores mecânicos) é limitado, e deve ser usado um para cada doente grave, começaram a escolher quem viverá ou morrerá. A proporção de doentes graves é proporcional ao número de doentes. Portanto, se for possível manter a quarentena. Mantenha. Se você pode ficar em casa fique em casa, não vá para o trabalho, em solidariedade àqueles que não podem faltar ao serviço. Assim, você estará ajudando a reduzir a probabilidade de contágio. Não tem remédio, não tem vacina, a única alternativa é seguir as recomendações e protocolos médicos para evitar o contato com pessoas contaminadas.
“O amor é como as epidemias: quanto mais o tememos, mais expostos a ele estamos. ” (Nicolas Chamfort)
A palavra pandemia era distante. Agora está ao meu lado. Não sei se é verdade ou mentira, o que dizem os infectologistas, cientistas, políticos, médicos, empresários, investidores, donos de laboratórios farmacêuticos, comerciantes e oportunistas sobre o “coronavírus” que surgiu repentinamente, na cidade de Wuhan na China, de “Lao Tse-Tung” e, se espalhou rapidamente no mundo inteiro.
Similar ao vírus da gripe em 1580 na Ásia que atingiu em menos de 6 meses a Europa, África, América do Norte e Reino Unido matando 10% da população em áreas afetadas pela doença. Seguiram-se a Gripe Russa em 1889, a Gripe Espanhola em 1918, a Gripe asiática em 1957, a gripe de Hong Kong em 1968 e o Coronavírus em 2019. Sendo que essas três últimas pandemias de gripe surgiram na China.
“A sabedoria e a ignorância se transmite como as doenças; daí a necessidade de se saber escolher as companhias. ” (William Shakespeare)
Corona é o que tem a forma de coroa. O germe é um coronavírus, de uma família de vírus que causam tanto resfriado comum como a Sars, uma síndrome respiratória que já matou cerca de 800 pessoas, a maioria delas na Ásia, em uma epidemia em 2003.
Agora a pandemia está provocando histeria e pavor em todos os recantos do planeta terra. Não sabemos o que fazer diante da desinformação (e excesso de informação, que mais confundem que esclarecem), estamos desnorteados, assombrados com tantas notícias desencontradas. Enquanto, todos queremos fugir desse tormento que parece fora de controle, até que se se prove o contrário. Visto que, deixou rastro por onde passou: Ásia, Europa, América do Norte e do Sul… China, Itália, Portugal, Estados Unidos… e agora está entre nós causando pânico, incerteza, doença e morte.
“Como a doença amplia as dimensões internas do homem! ” (Charles Lamb)
Até o dia 27 de fevereiro de 2020, já haviam sido registrados mais de 80 mil casos no mundo, com mais de 2,7 mil mortes. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), os casos de 2019-nCoV já superaram os casos de SARS-CoV nas primeiras semanas de surto. No Brasil, até essa data, não haviam casos confirmados.
No dia 04 de março de 2020, o primeiro caso do novo coronavírus (covid-19) no Brasil foi confirmado em São Paulo. Num homem de 61 anos que voltou de uma viagem na Itália, onde há um aumento expressivo de casos da doença. Desde então, aumentaram os números de casos confirmados da doença em todo o território nacional. E o desespero da população atônita, sem saber o que fazer, senão esperar a providência divina. Sem sair de casa.
Como disse Raul Seixas, foi assim no dia em que todas as pessoas do planeta inteiro resolveram que ninguém ia sair de casa, como que se fosse combinado, em todo o planeta, naquele dia ninguém saiu de casa: “O Dia em que a terra parou. ”:
“Essa noite eu tive um sonho
de sonhador
Maluco que sou, eu sonhei
Com o dia em que a Terra parou
com o dia em que a Terra parou
Foi assim
No dia em que todas as pessoas
Do planeta inteiro
Resolveram que ninguém ia sair de casa
Como que se fosse combinado em todo
o planeta
Naquele dia, ninguém saiu de casa, ninguém
O empregado não saiu pro seu trabalho
Pois sabia que o patrão também não tava lá
Dona de casa não saiu pra comprar pão
Pois sabia que o padeiro também não tava lá
E o guarda não saiu para prender
Pois sabia que o ladrão, também não tava lá
e o ladrão não saiu para roubar
Pois sabia que não ia ter onde gastar
No dia em que a Terra parou…”
Agora só nos resta prevenir!
A prevenção contra as infecções por corona vírus pode ser realizada por meio de cuidados, como: evitar contato próximo com pessoas que estejam doentes; higienizar as mãos com frequência, especialmente após contato direto com pessoas doentes ou com o meio ambiente e antes de alimentar-se; cobrir a boca e o nariz ao tossir e espirrar, preferencialmente com lenços descartáveis, lavando as mãos em seguida; não compartilhar objetos de uso pessoal, como copos e talheres; manter os ambientes bem arejados; evitar contato próximo com animais selvagens ou doentes; evitar viajar para locais onde esteja ocorrendo surtos dessas doenças.
O que aprendi com a pandemia?
• A internet não é tão inoportuna como dizíamos, porque permite que mesmo no isolamento (confinamento, espontâneo, forçado ou quarentena), os pobres mortais, que se julgavam imortais, mantenham-se atualizados, sobre os fatos, acontecimentos e medidas essenciais para a prevenção da gripe; distantes dos hospitais e pessoas infectadas pelo “coronavírus”.
“ Seu cérebro é como um computador. Quando o sistema está comprometido, sobrecarregado, cheio de vírus, a melhor forma de recuperar sua capacidade é formatando-o” (Frank Betin)
• Diante da crise, medo, doença e morte os homens se aproximam, são mais solidários e todos percebem que são exatamente iguais. Ninguém é melhor que ninguém. Descobrimos que é preciso amar o próximo como a nós mesmos. Afinal, quem cuidará de nós quando adoecermos?
“Em última análise, precisamos amar para não adoecer. ” (Sigmund Freud)
• Assim, um simples vírus equipara todos os seres humanos diante da incapacidade de reação ao imprevisível e invisível – e, com um singelo toque nos faz perceber que não somos absolutamente nada diante dos vagalhões ou do “veneno / toxina”, de organismos microscópicos extremamente pequenos, sem célula, denominados “vírus”.
Enfim, estamos no mesmo barco da pandemia! O homem move a internet, mas as bactérias e os vírus movem o mundo. Por que os cientistas não descobrem um vírus da paz e do amor e lançam na terra para todos sermos infectados?
“Procura-se: Um vírus que contagie a humanidade com a bondade. ” (Marcelo Pelucio)
José Carlos Castro Sanches
São Luís, 17 de março de 2020.