São Luís, 19 de dezembro de 2022.
À sua Excelência o Senhor
Vereador Marcial Lima
Ref.: Gentílico Atheniense
Sr. Vereador,
Com cordiais cumprimentos , dirijo-me à Vossa Excelência e aos Dignos Vereadores que compõem a Egrégia Câmara Municipal de São Luís com o objetivo de solicitar o encaminhamento do Projeto de Lei que dispõe sobre o uso do gentílico “Atheniense” aos nascidos na Ilha de São Luís do Maranhão.
Certo da costumeira e especial atenção por vossa parte do pleito em referência, na oportunidade aproveito para externar protesto de elevada estima, admiração e apreço.
Segue em anexo os motivos para adoção do Gentílico Atheniense.
Atenciosamente.
João de Melo e Sousa Bentiví
Presidente da ATHEART.
GENTÍLICO ATHENIENSE (Versão final revisada e enviada para João de Mello e Sousa Bentivi – Presidente da ATHEART em 19.12.2022)
Por José Carlos Castro Sanches
Recebemos do Presidente da Academia Atheniense de Letras e Artes – ATHEART, Sr. João de Melo e Sousa Bentivi a edificante e gloriosa missão de descrever os motivos que justificariam o gentílico de “Atheniense” aos nascidos na Ilha de São Luís do Maranhão, apropriamo-nos do papel, da caneta, do computador e da internet e juntamos a estes a inspiração e a sensibilidade de poeta para tornarmos a narrativa atraente e construtiva. Assim, reunimos os argumentos que seguem para justificar a tese proposta.
“O nome da cidade é uma homenagem dada pelos franceses ao rei da França Luís IX, também chamado de “São Luís”. O rei Luís IX ficou popular porque, durante seu reinado, a França teve um excepcional poder político, econômico, militar e cultural, no chamado “século de ouro de São Luís”. Houve um grande desenvolvimento da justiça real, passando o monarca a representar o juiz supremo. Assim, os franceses, em homenagem a este rei, nomearam “São Luís” a nova cidade francesa.”
Gentílico gramaticalmente indica a naturalidade ou a nacionalidade. Nome designativo da ligação de alguém relativamente ao lugar (país, região, estado, cidade) onde nasceu, habita ou ao qual pertence (ex.: rosariense é o gentílico dos naturais da cidade de Rosário; ludovicene e são-luisense dos nascidos em São Luís).
Entre as dezenas de títulos que São Luís recebeu está o de “Athenas Brasileira”. Isso porque a vida cultural da capital sempre foi intensa e expressiva.
Visualizávamos a história pregressa da “Ilha de Upaon-Açu” com o propósito de entender a realidade de outrora quando era denominada de “Athenas Brasileira” no apogeu instalado pelos que habitavam a magnética São Luís do Maranhão.
Como o poeta nacional do Chile Pablo Neruda que devido à sua paixão pelo mar construiu na Isla Negra a sua casa-barco. Nós estávamos num retiro Atheniense, deitados nas redes penduradas nos armadores da varanda iluminada e ventilada frente à baía de São Marcos descrevendo em detalhes os motivos do gentílico Atheniense; apreciando as ondas do mar, o vento a balançar as folhagens dos coqueiros, a areia molhada e os transeuntes passeando ao longo da praia; o sol ardente e a beleza extasiante dos barcos e navios distantes à espera de um porto seguro para atracarem, enquanto a poesia fluía como se fora eterna entre as paisagens na intercessão do mar turvo com o céu azul vislumbrando a magnificência do universo pleno que levou ao conhecimento do mundo a língua portuguesa falada e escrita com precisão milimétrica em nosso torrão. Motivo pelo qual tornou-se orgulho para os maranhenses e referência para os brasileiros.
Em qualquer lugar que se vá. À nossa frente haverá as boas lembranças do passado de glória que ora nos instiga a pleitear o gentílico de Atheniense como reconhecimento e aptidão da nossa gente pela palavra escorreita e ao acentuado apego à linguagem apurada pelos ilustres escritores(as) como Maria Firmina dos Reis, Gonçalves Dias, Aluísio Azevedo, Humberto de Campos, Graça Aranha, Coelho Neto, Viriato Correia, Odilo Costa Filho, José Nascimento de Moraes, João Mohana, Bandeira Tribuzi, Ferreira Gullar, Josué Montelo, Carlos Cunha, José Chagas, Nauro Machado, José Louzeiro entre inúmeros beletristas que engrandeceram a literatura maranhense e por extensão a brasileira.
Como bons maranhenses que somos, sempre nos vimos como Athenienses pelas virtudes admiráveis daqueles que elevaram a nossa ilha ao píncaro da glória literária. Razão pela qual consideramos que o gentílico “Atheniense” deve ser incorporado aos nascidos na Ilha de São do Maranhão, como alternativa aos gentílicos são-luisense e ludovicense.
O gentílico “Atheniense” representa a grandeza do nosso fazer literário como símbolo de intelectualidade, atributo dos doutos e pensadores; associado ao profundo conhecimento e extraordinário apego dos literatos, escritores, poetas, cronistas, contistas, trovadores, historiadores, gramáticos e demais estudiosos da língua portuguesa que aqui desabrocharam, floresceram e deram bons frutos.
Homens e mulheres de notável saber que protagonizaram boas ações, tornaram-se visíveis e elevaram ao pódio a bandeira da vitória literária com dignidade, sabedoria, dedicação e responsabilidade. Fizeram reverberar por todo o planeta as ondas bravias da afamada Athenas Brasileira.
A Ilha, capital de São Luís do Maranhão, tem muitos apelidos, dentre os quais Athenas Brasileira, Jamaica Brasileira, Cidade do Palácio de Porcelana, Capital da França Equinocial, Ilha de Upaon-Áçu, Ilha Rebelde, Ilha Grande, Ilha Bela, Ilha Magnética, Ilha do Amor, Terra das Palmeiras, Cidade dos Azulejos etc.
Nessa Ilha foi construída a base da intelectualidade literária brasileira com promissora fonte de inteligência, criatividade e inovação. Os beletristas ávidos pela busca incessante da excelência atingiram o apogeu da literatura, arte e cultura que se propagará eternamente além-mares. São Luís sempre será a Athenas Brasileira, sim senhor! Ainda que alguns digam o contrário a verdade prevalecerá.
De longe se vê o farol da liberdade e das belas-letras assentado sobre um mastro elevado numa ilha encantada indicando a nossa força linguística, o dom da palavra, da oratória e da escrita que parece parte do DNA de todos os Athenienses. Lugar onde a prosa e a poesia permeiam todos os recônditos patrimoniais, humanos e históricos presentes no corpo e n’alma dos maranhenses.
Faz parte do seu patrimônio cultural a riqueza de poemas e romances dos seus grandes escritores. Assim, surgiu o epíteto da Athenas Brasileira, no lugar onde havia florescido gênios como, Aluísio de Azevedo, Graça Aranha, Manuel Odorico Mendes, Francisco Sotero dos Reis, Joaquim Gomes de Sousa, João Francisco Lisboa, Antonio Gonçalves Dias, entre outros, o que tornou a cidade de São Luís conhecida como Athenas Brasileira.
A elaboração deste símbolo cultural, entendido como tradição inventada, foi fruto de uma série de representações construídas no século XIX a respeito da excelência da terra e da gente do Maranhão.
Com o propósito de fortalecer os argumentos para aplicação do Gentílico Atheniense, pedimos licença ao Doutor José Henrique de Paula Borralho para juntarmos à referida descrição de motivos a sua Tese de Doutorado em História da Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2009. Intitulada: A Athenas Equinocial: a fundação de um Maranhão no império brasileiro. 2009. 328f. Com a certeza de que as informações complementares abaixo darão ao documento maior credibilidade, robustez e fundamentação histórica para justificar o pleito da ATHEART, segue uma sinopse da tese.
“Após o rompimento político com a antiga metrópole em 1822, Portugal, no Brasil, começavam a se desenhar projetos da nação pautados na coesão dos setores dominantes com o fito da manutenção dos estatutos da escravidão, dos interesses das frações das classes dirigentes, nos privilégios e na perpetuação da estrutura política que beneficiava determinados grupos existentes antes do rompimento. No Maranhão, a ligação com a antiga metrópole foi um empecilho, a princípio, para a nova configuração política que se desenhava no Brasil, acrescentada da desconfiança do centralismo burocrático, capitaneado pelo Rio de Janeiro, fazendo com que a incorporação do Maranhão ao império só acontecesse em 28 de julho de 1823, sendo a penúltima província a “aderir” à independência brasileira, só superada pelo Pará. Uma vez rompidos os laços com Portugal, era a hora dos setores dominantes no Maranhão, famílias abastadas, organizarem o espaço de dominação sociopolítico da província negociando a participação e a forma de estruturação da nação emergente, ou seja, articularem a inserção do Maranhão no império visando a permanência de seus privilégios. Em 1838 eclode a Balaiada, se estendendo até 1841, desorganizando a produção econômica pautada na agro exportação, radicalizando as diferenças entre os grupos dirigentes da província divididos entre cabanos e bem-te-vis, conservadores e liberais e, colocando em xeque a condição “civilizatória” da província. Alicerçado no boom econômico em virtude da agro exportação, a província passa a desfrutar de um refinamento material revestido em vários setores sociais, como educação, imprensa, teatro, viagens e, como resposta ao caos impetrado pela Balaiada, surge um projeto de formação de uma cultura oficial que desse visibilidade ao Maranhão perante as demais províncias. Tal projeto, pautado na escravidão, visou a exclusão de vários segmentos sociais, pois o referencial era o europeu, signatário da ideia clássica de civilização, cujo referente era a Grécia, supostamente o berço da civilização ocidental. Assim, surgiu o epíteto da Athenas Brasileira, o Maranhão, lugar onde havia florescido gênios como Manuel Odorico Mendes, Francisco Sotero dos Reis, Joaquim Gomes de Sousa, João Francisco Lisboa, Antonio Gonçalves Dias, entre outros, caracterizado como Grupo Maranhense, existente entre 1832 e 1868, quando desapareceu o Semanário Maranhense. Gerações posteriores a essa passaram a reproduzir esse semióforo ratificando a ideia de que o Maranhão seria a Athenas Brasileira. Enfim, o Maranhão seria a Athenas Brasileira, pois seus filhos ilustres na literatura, no jornalismo, na política e vários setores intelectuais, didatizavam a construção da nação participando decisivamente da emulação da vida pública brasileira, entre outras palavras, constituíam-se enquanto arquétipos dos signos da identidade nacional.”
O que aspiro e traduzo neste documento de escrita simples e informal é um desejo que tornou-se missão da Academia Atheniense de Letras e Artes – ATHEART. Em particular do Presidente João Melo e Sousa Bentiví e demais membros do referido sodalício. Com o propósito de dar aos nascidos em São Luís do Maranhão o gentílico “Atheniense”, além de são-luisense e ludovicense.
Quem nasce no Brasil é brasileiro. Quem nasce no Estado do Maranhão é maranhense. Quem nasce em São Luís pode ser Atheniense.
Diante do expresso aguardamos o deferimento do pedido, certos de que em breve seremos também chamados orgulhosamente de “Athenienses”.
São Luís, 14 de dezembro de 2022.
Revisado em 19 de dezembro de 2022.
José Carlos Castro Sanches
É Membro Efetivo da Academia Atheniense de Letras – ATHEART, ocupante da Cadeira 26, patroneada por Chico Poeta.