Por José Carlos Castro Sanches

“Temos que aprender a jogar fora o lixo que impede de percebermos o que acontece e realmente importa” (Filme Poder Além da Vida)
Vejam a que ponto chegamos. Eu resolvi colocar o lixo no cesto que fica na área destinada ao recolhimento dos resíduos no condomínio onde resido. A minha intenção era não deixar acumular as sobras de alimentos que havíamos consumidos naquele dia.
Vesti uma bermuda azul e camisa amarela, coloquei a segunda máscara branca, um chapéu de palha de aba curta tipo panamá, uma sandália Levis bem consumida e desci pelo elevador de serviços com a sacola plástica de lixo na mão até descartá-la no recipiente adequado. Retornei alegre para o apartamento imaginando que com aquele gesto eu deixaria feliz, o ajudante de serviços gerais Ludugero, por tê-lo poupado de recolher o lixo. Ledo engano!

No dia seguinte, por volta das 14h30min, a campainha do apartamento soou, eu abri a porta e deparei-me com Ludugero, que ali estava para recolher o lixo, naquele horário inoportuno, visto que sempre coincide com a sesta. O que nada tem a ver com a responsabilidade que delegaram a ele, muito menos com a inquestionável relevância do seu serviço.
Com o propósito de saudá-lo como sempre faço, fui até à porta abri-a e disse-lhe que já havia descartado o lixo e iria poupá-lo de recolher naquela tarde. Aquela era a rotina diária de Ludugero, passar em todos os apartamentos do prédio para recolher os resíduos.
Para não dizer que é estória de pescador enquanto eu escrevia esse parágrafo a campainha tocou, parei o que escrevia, levantei-me, peguei o saco de lixo e entreguei para o distinto servente, nesta tarde chuvosa de segunda-feira. Ele seguiu e eu voltei para continuar a narrativa. Tudo parece ter sido combinado para quebrar o raciocínio do cronista, mas voltarei à descrição dos fatos.
Ao dizer-lhe que havia recolhido e descartado o lixo no cesto do condomínio. Ele respondeu: “não faça isso doutor, porque senão eu perco o meu emprego”. Continuou: “o Sr. Já imaginou se todos os condôminos resolverem seguir o seu exemplo, estarei em breve no olho da rua, a ver navios na beira mar ou litorânea, ou quem sabe vigiando carros nas ruas de São Luís para ganhar uns trocados para sobreviver”. Logo pensei: infelizmente é a triste realidade, aquela que não se quer ouvir porque dói na alma.
O mundo está do avesso, e nos faz pensar que o avesso é o lado certo. Precisamos gerar lixo para manter pessoas honestas e trabalhadoras – recolhendo os sobejos – para garantir o próprio sustento e da família.
Eu não havia pensado em escrever sobre essa passagem, todavia ao ler uma mensagem que recebi no meu WhatsApp. Vou fazer um breve resumo sobre o significado de WhatsApp para os que lerem esta crônica daqui a cem anos, depois retornarei ao tema central. WhatsApp é um aplicativo multiplataforma de mensagens instantâneas e chamada de voz para smartphones. Além de mensagem de texto, os usuários podem enviar imagens, vídeos e documentos em PDF, também fazer ligações grátis por meio de uma conexão com a internet, por isso se tornou tão popular neste século. Não sei se esclareci ou compliquei mais o entendimento. Agora volto ao que interessa.
A mensagem de WhatsApp tinha uma imagem com o seguinte título: “Uma questão de ponto de vista!” E na sequência um texto breve que retratava uma conversa de um filho com um pai. Em que o filho perguntou: “Aqueles são os homens do lixo, pai?” E o pai respondeu: “Não filho, aqueles são os homens da limpeza, os homens do lixo somos nós.”

Não tendo mais nada a dizer, diante da ignorância dos homens e da ingenuidade das crianças. Eu coloco a insensibilidade humana no cesto de lixo, tiro o meu chapéu para os homens da limpeza e encerro envergonhado esse relato ao constatar que somos homens do lixo.
“Não se mede o valor de um homem pelas suas roupas ou pelos bens que possui, o verdadeiro valor do homem é o seu caráter, suas ideias e a nobreza dos seus ideais. ” (Charles Chaplin)

São Luís, 17 de janeiro de 2022.
José Carlos Castro Sanches
É químico, professor, escritor, cronista e poeta maranhense.
Membro Efetivo da Academia Luminense de Letras, da Academia Maranhense de Trovas, da Associação Maranhense de Escritores Independentes, da União Brasileira de Escritores e do PEN Clube do Brasil.

Autor dos livros: Colheita Peregrina, Tenho Pressa, A Jangada Passou; No Fluir das Horas é tempo de ler e escrever, A Vida é um Sopro, Gotas de Esperança, Pérolas da Jujuba com o Vovô e catorze livros inéditos. Visite o site falasanches.com e a página “Fala, Sanches” (Facebook) e conheça o nosso trabalho.

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NOTA: Esta obra é original do autor José Carlos Castro Sanches e está licenciada com a licença JCS17.01.2022. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas. Esta medida fez-se necessária porque ocorreu plágio de algumas crônicas do autor, por outra pessoa que queria assumir a autoria da sua obra, sem a devida permissão – contrariando o direito à propriedade intelectual, amparado pela Lei nº 9.610/98, que confere ao autor direitos patrimoniais e morais da sua obra.


